Dizem, os que sabem, que o comunismo nada mais é do que o capitalismo de Estado. Nós, que nada sabemos, também achamos que assim seja embora façamos uma pequena destrinça. No capitalismo, capitalismo, o dinheiro concentra-se nas mãos dos capitalistas e todos, menos eles, ficam piores porque esse capital não tem qualquer distribuição e, no comunismo, cria-se algum bem-estar público com o que sobra do capitalismo das elites.
Vivemos tempos diferentes, Mário. Quando fomos contigo até ao Técnico, fomos fazer saber que não nos agradava nem uma coisa nem outra. Havia, na altura, uma noção diferente e uma ambição que fazia com que os provincianos e os filhos de gente alguma se sentissem como classe média e pretendessem parecer-se com os citadinos ou com filhos de algo.
Neste momento, Mário, quem tem medo já não compra um cão. Quando muito, ladra, ou melhor, gane, e vê fugir-lhe a prosápia de se querer equivaler. Há agora uma máxima nas elites que se consubstancia na ideia de que toda essa classe baixa viveu de forma média porque acima das possibilidades gastando aquilo que devia estar a pagar de tributo à classe alta.
Por isso, Mário, temos dois caminhos. Ou voltamos à Fonte Luminosa e tentamos dar algum sentido ao protesto que essa imaginária classe média esbraceja, ou regressamos à monarquia sem Rei, coisa de fidalgos, de burgueses merceeiros e de provincianos que chegaram ao canudo por obra e graça da especulação de terrenos e dos patos bravos.
Lembro-me de ti, Mário, com o socialismo na gaveta e a social-democracia (que era aquilo que sempre quisemos) em cima da mesa e lamento que neste momento não haja um outro Mário que meta estes protofascistas na gaveta e consiga agregar o nosso sacrifício com a esperança para que possamos sair do miserável gueto onde nos continuam a mergulhar.
LNT
[0.481/2012]