Tom Jobim - Rio de Janeiro - Brasil
LNT
[0.335/2014]
Prende-se para melhor se investigar. Prende-se para humilhar, para vergar. Prende-se para extorquir, sabe-se lá que informação. Prende-se para limitar a defesa: sim, porque esta pode "perturbar o inquérito". Mas prende-se, principalmente, para despersonalizar. Não, já não és um cidadão face às instituições; és um "recluso" que enfrenta as "autoridades": a tua palavra já não vale o mesmo que a nossa. Mais que tudo - prende-se para calar. E - suprema perfídia - invoca-se, para assim proceder, as regras do Direito, a legitimidade da democracia. "As instituições estão a funcionar."O que me leva a borrifar para a carta de Sócrates não são as dezenas de verbos que ele usa para dar razão ao que escreve mas sim as centenas de vezes que as razões dele não foram consideradas durante os seis anos em que foi Primeiro-Ministro e nada fez para que essas razões deixassem de o ser.