terça-feira, 24 de junho de 2014

Sonhos portugueses

TAP INEM
LNT
[0.261/2014]

Escolas

Tito de Morais, Luis Novaes TitoUma das minhas referências políticas sempre foi Manuel Tito de Morais. Homem prosseguido pelo anterior regime, preso, torturado, maltratado, exilado, resistente sempre.

Homem de convicções fortes, socialista de sempre, fundador na clandestinidade de diversos movimentos políticos, fundador da ASP e do Partido Socialista, fundador do Portugal Socialista, construtor do PS (por extenso) depois da liberdade, resistente sempre.

Foi seu parceiro sempre. No Partido que ajudei a implementar na sociedade portuguesa. Na Secretaria de Estado do Emprego, na Secretaria de Estado da População e Emprego, na Presidência da Assembleia da República, nas lutas ao lado e contra Mário Soares. Resistindo sempre.

E mesmo quando com ele não estive política e pontualmente, estive com ele sempre, com a sua escola de coerência a que Almeida Santos gosta de chamar teimosia.

Com Tito de Morais aprendi a resistir, mesmo – se necessário - com sofrimento físico, na defesa dos meus princípios. Com ele aprendi que um eleito que cumpre as suas promessas nunca se deve demitir porque tem obrigação de respeitar os votos que recebeu.

Com Tito de Morais reaprendi o que já tinha aprendido em casa com a minha Mãe, com os meus Avós, com uma família que é portuguesa há tanto tempo como aquele que a própria Nação tem.

Lá estarei no jantar do dia 30 para recordar mais uma vez o seu exemplo, a sua escola, a sua resistência.
LNT
[0.260/2014]

Barbering Books [ XVIII ]

Barbering BooksO homem abriu o envelope do Manuel e retirou de lá o passaporte falsificado e três camisas de vénus. Colocando estas à esquerda do copo, pensou: “Se o gajo tivesse feito trabalho duvidoso não se punha a gozar”. Guardou o passaporte no bolso interior direito do casaco. E nesse instante viu que um vulto se detinha em frente dele. Levantou a vista e deu com ela nas olheiras do Henrique.

“Tivarich Tchaikowsky”, disse-lhe o homem. “Sente-se. O que toma?” Continuava contente. O Henrique sentou-se, com os olhos ferrados nas camisas de vénus.

“Não tomo nada”, disse o Henrique. “Você arranjou abrigo?”

Uma grande voz gritou perto da mesa deles:

“Ó patrão, não há direito que você sirva melhor a clientela bem arreada. Olha os tremoços que ele dá a quem veste fino”. Era um guarda-fios enorme, a suar em bica. Estacara à porta da Rua da Escola Politécnica e apontava as camisas de vénus a toda a tasca.

“É servido?”, perguntou o homem pegando num desses objectos.

“Não cabe nos postes”, disse o guarda-fios. “E a patroa trabalha sem rede. Bom proveito”.

“Por que raio é que você escolheu este sítio?” perguntou o Henrique. O homem guardou os preservativos no bolso exterior esquerdo do casaco coçado.

“Por causa dos lustres”, explicou, apontando os seres alados empunhando candelabros de três lâmpadas, um de cada lado da porta com bandeiras de vidro verde. “Esta é a única tasca de Lisboa que tem cúpidas. Pensei que isso talvez nos desse sorte”.

Nuno Bragança
Directa

LNT
[0.259/2014]

Já fui feliz aqui [ MCDXXXI ]

Salsichas com couves lombarda
Salsichas com couve lombarda - Por aí - Portugal
LNT
[0.258/2014]

Chico


LNT
[0.257/2014]

segunda-feira, 23 de junho de 2014

O barbeiro [ XI ]

O BarbeiroWalter, antes de se sentar, virou-se para o barbeiro com o sorriso humanista e atirou-lhe: - Sr. Luís, vou-me rir tanto se Costa for o candidato às próximas legislativas. Nunca me passou pela cabeça que o meu amigo chegasse a este fanatismo pelo "grande líder" Tózé.

- Bom dia, também para si, Prof. Seja bem-vindo a este meu estabelecimento e diga-me o que o trás por cá, para além dessas conversetas desalinhadas em que tem andado.

- Ora Sr. Luís, vim ao caldinho do costume. Ando aqui de cabeleira farta e desgrenhada e depois a malta pensa que isto é uma anarquia e apresenta-se aos exames de chanatos e bermudas pensando que a sala de aulas é o bar do Tamariz ou as Comissões nacionais onde o desrespeito pelas regras, anteriormente aceites por todos, pretende tornar um conclave legal num jogo de sueca.

- Então faça o favor de tomar o seu lugar que já o ponho fino.

Walter é um dos clientes antigos. Tinha uma sala de explicações de humanidades lá para o fundo da rua que deixou falir por falta de tempo e escassez de clientela. Todos o sabiam Professor, mas ninguém assim o tratava (com excepção dos alunos) porque nunca tinha conseguido ser comentador da quatro. Bom tipo, embora fundamentalista com tendências anárquicas.

Já de tesoura na mão, o barbeiro pediu ao cliente que se pusesse a jeito, o que bastou para que ele disparasse: - Hei-de lhe fazer chegar um volume com as maravilhosas e mui sensatas propostas que o meu santinho anda a cozinhar para tomar conta do pedaço e fazer o milagre da multiplicação dos peixes a partir da sardinha que os seus arregimentados deixaram ficar ao Tózé.

- Meu caro Prof., – iniciou o barbeiro enquanto que, com a mão esquerda, lhe segurava o crânio para evitar que a excitação nervosa de Walter o levasse a picar-se nos bicos da tesoura – a sardinha, como o senhor diz, foi deixada magra e seca por quem entregou este País ao actual poder. Volto a lembrar-lhe que foi o anterior governo que garantiu à direita um Presidente da República, uma maioria absoluta na Assembleia da República, um Governo inominável de incompetência e mentira, a grande maioria do poder local e a maioria da nossa representação da Europa.

- Note, meu caro Prof., que eu não caio nessa de dizer que a culpa foi só do Sócrates, porque ela foi de toda uma gente que deveria ter caído com ele quando o “Tózé”, como você diz para tentar diminuir o secretário-geral do nosso Partido, se bateu contra Francisco que na altura tinha à sua sombra todos os que agora estão à sombra do santinho. E digo-lhe em abono da verdade que, no meio de tudo isto, Sócrates foi o único que teve a hombridade de ceder o seu cargo ao reconhecer que lhe faltava legitimidade política, enquanto todos os seus apaniguados se acantonaram nas tribunas parlamentares para dali enfraquecerem as redes seguras que o “Tózé” foi deitando ao mar.

Agora que já se começa a ver novo cardume, são esses mesmos acantonados, que exigem que o paciente pescador abandone o barco porque, dizem, encontraram um ser divino para timoneiro, capaz de milagres de multiplicação dos peixes sem trabalho e que, com magias de perlimpimpim, garanta que a tripulação se mantenha a bordo.

Deu-me trabalho, meu caro Prof., mas deixei-lhe a nuca em ordem. Ainda havia que aparar mais uns cabelitos anarcas mas fica para a próxima, quando lhe der jeito e eu tiver cadeira vaga.
LNT
[0.256/2014]
Imagem: http://www.gutenberg.org/

Barbering Books [ XVII ]

Barbering BooksMostrava-lhe as fotos na escrivaninha, seu trisavô com os reis da Bélgica, seu tetravô andando de costas em Londres, mas ele não queria saber de velharias.

Acompanhava-me aos sebos por benevolência, mas ficava parado do lado de fora com as mãos nos bolsos. Nem buço o moleque tinha, quando notei que se dedicava a espiar mulheres na avenida. E me arrepiei porque, de relance, num mero meneio de cabeça ele encarnou meu pai. Olhava as mulheres tal e qual meu pai, não de modo dissimulado, nem lascivo, muito menos suplicante, mas com solicitude, como quem atendesse a um chamado. Por isso as mulheres lhe eram gratas, e a seu tempo começaram a procurá-lo em casa, foi de tanto dormir no divã da sala que Maria Eulália ficou corcunda.

Ao som de sambas, rumbas, rock and roll, o Eulálio se entretinha no quarto com empregadinhas do bairro, caixas de supermercado, namorou até uma oriental, garçonete num sushi bar. Trazia também colegiais, um dia o vi entrar com uma menina muito branquinha, cheirosa, um andar gracioso.

Dessa vez colei o ouvido num copo contra a minha parede, curioso dos gemidos dela, queria saber que melodia tinham. Por baixo de uma batucada distingui sua cantilena triste, aguda, que subitamente deu lugar a gritos guturais, fode eu, negão!, enraba eu, negão!, e não sou homem que se melindre à toa. Mas assim que cruzei com ela, me vi compelido a lhe dizer, o negão aí é descendente de dom Eulálio Penalva d'Assumpção, conselheiro do marquês de Pombal.
Chico Buarque
Leite derramado

LNT
[0.255/2014]

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Cock luche

CockForam a Florença buscar um homem cheio de atributos, canudos e pergaminhos, especialista em direito europeu e constitucional e em mais uma catrefada de coisas, um comendador por mérito agraciado por Sampaio, e fizeram dele um ministro que em nada sobressai daquilo que por aí vai e acrescenta incompetência à incompetência deste poder podre que só não cai porque cristalizou na mão de um arbusto fossilizado.

Assim se estraga o que é bom e se reafirma, uma vez mais, a sabedoria popular:
"Quem nunca comeu melado, quando come... se lambuza"

Provérbios populares à parte, e tendo no seu vasto currículo que até já foi ministro, fazia-nos um favor imenso se voltasse para a escola onde dava aulas para continuar a honrar Portugal, lá fora, com o seu saber.

É que as patacoadas já são tantas que ainda corre o risco de acrescentar aos seus dados biográficos o recorde mundial da velocidade de desmentido de asneiradas colossais.
LNT
[0.253/2014]

Barbering Books [ XVI ]

Barbering BooksÓ minha terra na planície rasa,
Branca de Sol e cal e de luar,
Minha terra que nunca viste o mar,
Onde tenho o meu pão e a minha casa.

Minha terra de tardes sem uma asa,
Sem um bater de folhas... a dormitar
Meu anel de rubis a flamejar,
Minha terra moirisca a arder em brasa!

Minha terra onde meu irmão nasceu
aonde a minha Mãe que eu tive e que morreu
Foi moça e loira, amou e foi amada!

Truz... truz... truz - Eu não tenho onde me acoite,
Sou um pobre de longe, é quase noite,
Terra, quero dormir, dá-me pousada! ...
Florbela Espanca
Sonetos

LNT
[0.252/2014]

Já fui feliz aqui [ MCDXXIX ]

Cabidela
Cabidela - Por aí - Portugal
LNT
[0.251/2014]

quinta-feira, 19 de junho de 2014

O barbeiro [ X ]

O Barbeiro- Boa tarde Sr. Luís, venho para um aparo de patilhas que está a chegar o tempo de praia e não quero sombras na cara.

- Ora viva, Sr. Jaime, faça a fineza de se acomodar que já lhe faço o serviço.

O Senhor Luis puxou do cabedal de afiar a navalha e deu-lhe duas, três, quatro, chanfalhadas. De seguida passou o papel a testar o corte, mergulhou o pincel na espuma e deu início à função.

- Mestre, não perca a razão por perder a cabeça no afio da navalha. Tenha cuidado com as minhas orelhas, que quem as fez já não está em condições de fazer umas novas.

Com um sorriso, o barbeiro (que adorava quando o tratavam por mestre) deixou a navalha valsar com ritmo e suavidade pela cara do seu cliente porque se apercebeu que se lhe fosse só às patilhas a barba ficaria por fazer. – Tenha calma, amigo! Fique sossegado que só no tempo do meu avô é que os barbeiros também eram sangradores. Aqui, ainda não se usam lâminas descartáveis, mas as navalhas são sempre objecto do maior asseio e de fio irrepreensível, assim como a minha mão que raramente tremelica.

- Sabe que desconfio sempre de tais precisões. É como aquela caldeirada que andam a cozinhar no PS. "Se eles transformarem esta luta numa vendetta, então, se ganharem o Partido (ou o que sobrar dele) perderão o País... Se perderem, seria bom que pudessem sair deste episódio de cabeça erguida e prontos a afirmarem-se como oposição interna, porque as derrotas de hoje são as vitórias de amanhã... Se eu não acredito de todo que AJS possa chegar a PM, não é de todo adquirido que Costa possa por sua vez ganhar as legislativas".

O barbeiro, sempre a sorrir, pegou no paninho quente para lhe acariciar a face e, em sussurro: - Sr. Jaime, Sr. Jaime. Então o senhor não sabe que para haver oposição interna é necessário haver moção, programa, linhas de orientação e os insurrectos ainda não conseguiram mostrar o que quer que seja que seja diferente das linhas de orientação aprovadas pelo poder instituído? É verdade que há muitos beijos, abraços, carinhos e multidões, espingardas e baionetas em riste, mas ideias...

- Acabámos. A sua carinha macia como o rabinho de um bébé. Volte sempre!
LNT
[0.250/2014]
Imagem: http://www.gutenberg.org/

Por direito divino

Viva Filipe VI de España
Viva o Rei


Casa Real Espanhola

Costa Lisboa

(ops! desculpem, enganei-me no evento)


Agora sim, viva o Rei!

Viva Filipe VI!

Felipe VI
LNT
[0.249/2014]

O ritual da beatificação

Costa LisboaAssim por contas rápidas, umas 15 ou 16 freguesias de Lisboa a 20 pessoas cada, mais uma catrefada de gente das vereações e assembleia municipal e mais um molhinho de deputados rebeldes, adjuntos, assessores e tal, e prontus, não há Tivoli que chegue e não fosse a Avenida da Liberdade, o andor não tinha conseguido sair do adro.

Espero que, como se faz nas outras orações evangélicas modernas, tivessem tido ecrãs gigantes cá fora para que os crentes pudessem ouvir as homilias proferidas a tanto cristão-novo.

Certamente foi mais povo que na procissão da Igreja de Santo António, embora menos que na entronização de Filipe VI de Espanha.

Oremos, pois, o faducho:
Cá vai a marcha, mais o meu par
Se eu não o trouxesse, quem o havia de aturar?
Não digas sim, não me digas não
Negócios de amor são sempre o que são
Já não há praça dos bailaricos
Tronos de luxo num altar de manjericos
Mas sem a praça que foi da Figueira
A gente cá vai quer queira ou não queira
LNT
[0.248/2014]