Walter, antes de se sentar, virou-se para o barbeiro com o sorriso humanista e atirou-lhe: - Sr. Luís, vou-me rir tanto se Costa for o candidato às próximas legislativas. Nunca me passou pela cabeça que o meu amigo chegasse a este fanatismo pelo "grande líder" Tózé.
- Bom dia, também para si, Prof. Seja bem-vindo a este meu estabelecimento e diga-me o que o trás por cá, para além dessas conversetas desalinhadas em que tem andado.
- Ora Sr. Luís, vim ao caldinho do costume. Ando aqui de cabeleira farta e desgrenhada e depois a malta pensa que isto é uma anarquia e apresenta-se aos exames de chanatos e bermudas pensando que a sala de aulas é o bar do Tamariz ou as Comissões nacionais onde o desrespeito pelas regras, anteriormente aceites por todos, pretende tornar um conclave legal num jogo de sueca.
- Então faça o favor de tomar o seu lugar que já o ponho fino.
Walter é um dos clientes antigos. Tinha uma sala de explicações de humanidades lá para o fundo da rua que deixou falir por falta de tempo e escassez de clientela. Todos o sabiam Professor, mas ninguém assim o tratava (com excepção dos alunos) porque nunca tinha conseguido ser comentador da quatro. Bom tipo, embora fundamentalista com tendências anárquicas.
Já de tesoura na mão, o barbeiro pediu ao cliente que se pusesse a jeito, o que bastou para que ele disparasse: - Hei-de lhe fazer chegar um volume com as maravilhosas e mui sensatas propostas que o meu santinho anda a cozinhar para tomar conta do pedaço e fazer o milagre da multiplicação dos peixes a partir da sardinha que os seus arregimentados deixaram ficar ao Tózé.
- Meu caro Prof., – iniciou o barbeiro enquanto que, com a mão esquerda, lhe segurava o crânio para evitar que a excitação nervosa de Walter o levasse a picar-se nos bicos da tesoura – a sardinha, como o senhor diz, foi deixada magra e seca por quem entregou este País ao actual poder. Volto a lembrar-lhe que foi o anterior governo que garantiu à direita um Presidente da República, uma maioria absoluta na Assembleia da República, um Governo inominável de incompetência e mentira, a grande maioria do poder local e a maioria da nossa representação da Europa.
- Note, meu caro Prof., que eu não caio nessa de dizer que a culpa foi só do Sócrates, porque ela foi de toda uma gente que deveria ter caído com ele quando o “Tózé”, como você diz para tentar diminuir o secretário-geral do nosso Partido, se bateu contra Francisco que na altura tinha à sua sombra todos os que agora estão à sombra do santinho. E digo-lhe em abono da verdade que, no meio de tudo isto, Sócrates foi o único que teve a hombridade de ceder o seu cargo ao reconhecer que lhe faltava legitimidade política, enquanto todos os seus apaniguados se acantonaram nas tribunas parlamentares para dali enfraquecerem as redes seguras que o “Tózé” foi deitando ao mar.
Agora que já se começa a ver novo cardume, são esses mesmos acantonados, que exigem que o paciente pescador abandone o barco porque, dizem, encontraram um ser divino para timoneiro, capaz de milagres de multiplicação dos peixes sem trabalho e que, com magias de perlimpimpim, garanta que a tripulação se mantenha a bordo.
Deu-me trabalho, meu caro Prof., mas deixei-lhe a nuca em ordem. Ainda havia que aparar mais uns cabelitos anarcas mas fica para a próxima, quando lhe der jeito e eu tiver cadeira vaga.
LNT
[0.256/2014]
Imagem: http://www.gutenberg.org/
- Bom dia, também para si, Prof. Seja bem-vindo a este meu estabelecimento e diga-me o que o trás por cá, para além dessas conversetas desalinhadas em que tem andado.
- Ora Sr. Luís, vim ao caldinho do costume. Ando aqui de cabeleira farta e desgrenhada e depois a malta pensa que isto é uma anarquia e apresenta-se aos exames de chanatos e bermudas pensando que a sala de aulas é o bar do Tamariz ou as Comissões nacionais onde o desrespeito pelas regras, anteriormente aceites por todos, pretende tornar um conclave legal num jogo de sueca.
- Então faça o favor de tomar o seu lugar que já o ponho fino.
Walter é um dos clientes antigos. Tinha uma sala de explicações de humanidades lá para o fundo da rua que deixou falir por falta de tempo e escassez de clientela. Todos o sabiam Professor, mas ninguém assim o tratava (com excepção dos alunos) porque nunca tinha conseguido ser comentador da quatro. Bom tipo, embora fundamentalista com tendências anárquicas.
Já de tesoura na mão, o barbeiro pediu ao cliente que se pusesse a jeito, o que bastou para que ele disparasse: - Hei-de lhe fazer chegar um volume com as maravilhosas e mui sensatas propostas que o meu santinho anda a cozinhar para tomar conta do pedaço e fazer o milagre da multiplicação dos peixes a partir da sardinha que os seus arregimentados deixaram ficar ao Tózé.
- Meu caro Prof., – iniciou o barbeiro enquanto que, com a mão esquerda, lhe segurava o crânio para evitar que a excitação nervosa de Walter o levasse a picar-se nos bicos da tesoura – a sardinha, como o senhor diz, foi deixada magra e seca por quem entregou este País ao actual poder. Volto a lembrar-lhe que foi o anterior governo que garantiu à direita um Presidente da República, uma maioria absoluta na Assembleia da República, um Governo inominável de incompetência e mentira, a grande maioria do poder local e a maioria da nossa representação da Europa.
- Note, meu caro Prof., que eu não caio nessa de dizer que a culpa foi só do Sócrates, porque ela foi de toda uma gente que deveria ter caído com ele quando o “Tózé”, como você diz para tentar diminuir o secretário-geral do nosso Partido, se bateu contra Francisco que na altura tinha à sua sombra todos os que agora estão à sombra do santinho. E digo-lhe em abono da verdade que, no meio de tudo isto, Sócrates foi o único que teve a hombridade de ceder o seu cargo ao reconhecer que lhe faltava legitimidade política, enquanto todos os seus apaniguados se acantonaram nas tribunas parlamentares para dali enfraquecerem as redes seguras que o “Tózé” foi deitando ao mar.
Agora que já se começa a ver novo cardume, são esses mesmos acantonados, que exigem que o paciente pescador abandone o barco porque, dizem, encontraram um ser divino para timoneiro, capaz de milagres de multiplicação dos peixes sem trabalho e que, com magias de perlimpimpim, garanta que a tripulação se mantenha a bordo.
Deu-me trabalho, meu caro Prof., mas deixei-lhe a nuca em ordem. Ainda havia que aparar mais uns cabelitos anarcas mas fica para a próxima, quando lhe der jeito e eu tiver cadeira vaga.
LNT
[0.256/2014]
Imagem: http://www.gutenberg.org/
6 comentários:
Este barbeiro tem um paleio igualzinho a Nuno Melo, Luís Montenegro, Abreu Amorim, Nuno Magalhães...
eu que sou militante do PS peço-lhe que me diga quando é que esses senhores que mencionou usaram o paleio que o barbeiro tem.
Claro que só terá uma resposta decente se quiser fazer o favor de não se apresentar como anónimo.
Luís Tito, admitamos que o seu alter-ego tem razão e que o desafio de Costa a Seguro não é mais do que uma conspiração socratista para (re)tomar o PS. E qual a resposta que Seguro lhes dá? A Teresa de Sousa dizia ontem numa coluna de opinião do Público muito daquilo que eu penso, mas que infelizmente não consigo articular da forma brilhante como ela o fez. Claro que Costa vai ignorar olimpicamente os insultos de Beleza ou de Bexiga (que só enfraquecem Seguro), e não vai dar de todo a mostrar os seus trunfos (se os tem) a mais de três meses das Primárias (na batalha, escolhe o terreno que te é mais favorável, vem nos livros). A maneira de o chamar já ao debate era óbvia, mas não a repito aqui, senão acusa-me outra vez de não ter compreendido a sua posição. Acredite que eu gostava de ver Costa espremido, daria para perceber se as ideias que tem batem certo com os números, mas a estratégia de atrição escolhida por Seguro parece-me bem mais prejudicial a este do que a Costa, que vai mantendo a sua pose majestática (e chamem-lhe burro por o fazer). Só que, escolhida a via das Primárias, não sei muito bem como Seguro pode voltar atrás. Não vale a pena tentar transformar esta discussão numa discussão sobre princípios, porque por um lado é razoavelmente fácil encontrar exemplos de erros de Seguro que entram em conflito com esses princípios e porque, por outro lado,
o que interessa é o que funciona... Se é com este sentido estratégico que Seguro pensa ganhar a uma Raposa como Passos Coelho (ao atual PM pode faltar tudo, menos manha), então desculpe, mas só mudando de SG é possível ganhar as próximas eleições...
Caro Barbeiro, traz-me cá (regularmente)o Câmara Corporativa, esse antro do Costismo. E em boa hora me traz a este reduto. Um Pacheco Pereira do Segurismo é o que o nosso Barbeiro é. Vê-lo-ei um dia a cuspir no prato onde por estes dias come? Um dia em que a Narrativa desmorone e a História se concretize?
Jaime,
não preciso de repetir que o ataque de Costa irá ter reflexos no PS.
Assim como não me canso de dizer que teria preferido que Seguro deveria ter dado uma resposta imediata ao ataque de Costa, porque estas questões devem resolver-se com celeridade.
O que daqui resultará estamos para ver. Não será brilhante, disso tenho a certeza.
Joaquim, prefiro chamar ao CC um núcleo de fundamentalistas socretistas a costistas, É um direito deles, como meu direito é o de ser socialista e defender os dirigentes do meu Partido.
Quanto ao prato onde cuspo, como diz, é um prato meu porque nunca cuspo, nem como, no prato dos outros.
A narrativa e a História ficam para quem tem a obrigação de a fazer e de a escrever.
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