Pensar alto
Uma das razões porque este Blog tem comentários resulta por, nesses espaços interactivos, haver muita gente que deixa sabedoria sobre os textos que escrevemos.
É o caso dos comentários que estão a cair no texto [222/2009] onde se aborda a interdição da pena de morte e, indirectamente, a defesa dos direitos humanos.
Destaco um comentário da Helena do 2 Dedos de Conversa para nova abordagem, agora tentando abstrair do caso concreto referido. Faço-o a "pensar alto":
1.– Não à Pena de Morte. É definitivo. Já o disse antes: Não é o facto de haver bestas na humanidade que me levará a ser também uma delas;
2.– Sim à defesa e ao acesso à Justiça. É definitivo. Até acredito que perante uma situação extrema seja capaz de uma resposta extrema. Serei capaz de matar se me sentir ameaçado de morte ou se essa ameaça for eminente para terceiros. Tirando isto e existindo Lei e Justiça ela terá de ser exercida por quem tem por missão fazê-la aplicar.
3.– Sim à humanidade e ao tratamento humano. É em teoria definitivo mas, como dizia um destes dias o Luís Osório, há coisas que nos "revolvem as entranhas" e por isso a sugestão do dossier com as argolas abertas, como escrevi no fim do texto. Possivelmente não usaria o dossier como lá indico, mas também não o deixaria ser utilizado como foi.
Em nenhum destes casos se enquadra o direito de se fazer ocultar um rosto ou um nome depois de comprovado ser o rosto e o nome de alguém que atentou contra a humanidade.
Só as vítimas merecem esse tratamento e como acredito que a prisão para um destes seres não se destina a recuperá-lo para a sociedade, mas só a puni-lo, uma das punições terá de ser o seu reconhecimento público. Sem dó, nem piedade.
LNT
Rastos:
-> 2 Dedos de Conversa ≡ Helena
-> Rádio Clube Português ≡ Luís Osório
3 comentários:
Subscrevo por completo.
A pena de morte não pode regressar ao nosso ordenamento. Mas porquê defender a vergonha dos que nunca a tiveram?
No espirito do que me disseste abaixo, fica uma sugestão:
http://tinyurl.com/c3kn97
Eu também a pensar em voz alta e, para mais, em rascunho...
O Luís fala em coisas que nos revolvem as entranhas, o que me faz lembrar um comentário que ouvi a um médico de um hospital alemão: às vezes aparecem-lhe homens de idade que têm no braço uma pequena tatuagem com o seu grupo sanguíneo, ou uma pequena cicatriz nesse sítio. Ou seja: eram membros da SS. A vontade de ser delicado e simpático com essas pessoas fica um bocadinho limitada...
Também há a história do cardiologista que transplantou um coração, para acabar a ouvir as queixas da psicóloga do serviço, porque o homem que o recebeu era um neo-nazi insuportável. O médico não conseguiu impedir-se de pensar "que coração tão mal aproveitado..."
A tentação de ser o "Justiceiro Solitário" acontece aos personagens mais improváveis.
Por outro lado, há a história que ouvi uma vez à assistente de um dentista, que não aguentava mais ver o modo como o médico se comportava quando ia a uma prisão tratar os dentes dos prisioneiros. Armava-se em castigador, não lhes dava anestesia suficiente, não mudava de luvas entre um e outro, etc.
Entendia ele que, tratando-se de criminosos, mereciam.
Eu, por acaso, acho que esse dentista merecia ir fazer companhia aos seus clientes...
***
Essa questão do direito à imagem é muito interessante.
O que mais vejo neste tipo de julgamentos mediáticos são réus a esconder o rosto.
Outra questão ligada a esta: pessoas que cumpriram pena por crime de pedofilia, e que depois de libertadas têm direito à protecção da sua imagem. O Estado não divulga o passado do ex-prisioneiro, e os vizinhos não sabem - até que um dia ele agarra numa criança que já se habituou à sua presença, abusa dela e mata-a. E aí os vizinhos perguntam: "porque é que ninguém nos avisou?!"
Porque é que se divulga a imagem de um criminoso durante um processo? Há realmente um interesse público de informação? A captura da imagem, contra a vontade do réu, e a sua divulgação a nível mundial como forma de punição - não está aqui uma espécie de reminiscência do pelourinho?
Por outro lado - e agora é a minha sensibilidade a pensar alto: eu sei como é a cara daquele homem, e até agradeço que não ma mostrem de novo. Não quero ver se está assustado ou arrependido, arrogante ou humilde. Não quero sujar-me com mais imagens dele.
Parece-me que o barulho mediático à volta deste julgamento é exagerado. Isto é Justiça, ou os melhores momentos do Big Brother?
Por coincidência, li hoje que o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos está a considerar o caso de Magnus Gäfgen, que há seis anos raptou um rapazinho de 11 anos, foi capturado quando ia recolher o resgate, e se recusava a dizer onde tinha escondido a criança.
A Polícia tentou tudo para conseguir essa informação, mas nem sequer quando recorreram à mãe dele (se bem entendi: à mãe do raptor - e este detalhe dava um filme) ele se deixou convencer.
Em desespero de causa, o chefe da Polícia disse que o iam torturar até ele confessar onde era o esconderijo. Não foram tão longe, ele confessou imediatamente. O miúdo já estava morto.
Os polícias envolvidos foram imediatamente suspensos do serviço, julgados e castigados (penas bastante leves, porque o tribunal teve em conta o contexto em que agiram: a corrida contra o relógio para salvar a vida de uma criança).
Neste link
http://www.spiegel.de/fotostrecke/fotostrecke-25118-4.html#backToArticle=613901
aparece uma fotografia em que, à saída da prisão, um polícia esconde o rosto de Magnus Gäfgen, para ele não ser fotografado.
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