sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Não tenho a culpa

Crocodilo e hipopótamos

Sim, eu sei. Sei que gostariam de nos ter mansos e controlados mas vão ter-nos rebeldes. Sei que, possivelmente, não haverá outra coisa a fazer senão aquilo que inventaram com o "crescimento negativo" dos vencimentos da função pública. Sei que espalharam aos sete ventos a ideia da inevitabilidade destas medidas.

Sei que a culpa é da Administração Pública. Digo "Administração Pública" e não "Funcionários Públicos".

A Administração Pública tem sido gerida danosamente. É um animal insaciável de muitas clientelas que constituem uma casta destinada a sacar para si os benefícios que resultam de uma Administração Pública descontrolada e ao Deus-dará. São esses (públicos e privados, com e sem cor – muitas vezes privados vindos do público) e não os funcionários públicos que contratam o que não tem de ser contratado, que compram o que não tem de ser comprado, que não gerem o que tem de ser gerido e que colocam nos lugares chave aqueles que asseguram a continuidade dos seus propósitos.

Essa gente fura tudo. Fura os concursos para chefias, o que lhes permite manter em situação provisória (chamam-lhes em substituição), anos a fio, as pessoas que lhes interessa, fura a intenção da Lei, fingindo que o PRACE serviu para reduzir os lugares de chefia quando afinal se destinou só a designar por outro nome esses mesmos lugares que renumera de forma igual, fura as medidas de contenção continuando a inundar os serviços de inutilidades caras em nome de um progresso que nunca deixa acontecer por imaturidade dos processos que implementa e fura o SIADAP adulterando o sentido de avaliação por mérito através de uma coisa a que chamam o “dividir o mal pelas aldeias” ou seja, esquecer que se trata de uma avaliação por mérito e aplicá-la por regras de igualitarismo.

É essa gente e o poder político que lhes permite continuar a agir impunemente que tem a culpa e que deverá ser chamada à pedra. Os segundos são avaliados, recompensados ou penalizados, nas eleições. Os primeiros estão bem e recomendam-se.

Volto a dizer:

Sou funcionário público e não tenho a culpa da situação a que chegámos. Desafio quem quer que seja, seja público ou privado, a demonstrar que trabalhou e produziu numa vida de trabalho, mais ou melhor do que eu.
LNT
[0.346/2010]

15 comentários:

ANTÓNIO AGOSTINHO disse...

Pelos vistos, já foi muito mais feliz aí!..
Já agora, eu que não sou funcionário público, aproveito para esclarecer que não tenho mesmo culpa nenhuma...
Nunca votei PS.
Um abraço

Anónimo disse...

Eu também não sou culpado. E dia 24 Nov. farei Greve Geral como protesto.

Luís Novaes Tito disse...

António Agostinho,
Isto nada tem a ver com o PS, PSD, PCP, BE, ou seja com o que for.
Tem a ver com a tal casta que dirige a AP, que até no gozo se diz independente, que sobrevive a todas as colorações, e que faz o que quer.
É verdade que o poder político acaba por ter culpa, essencialmente porque deveria estar atento e inviabilizar este estado de coisas, mas esses, como digo no meu texto, ao menos têm de prestar contas em cada eleição.

Mário Sérgio Felizardo disse...

antes fosse apenas culpa de um ou outro partido...mas infelizmente a coisa é bem pior...como diz o nosso "barbeiro", o problema de uma casta que se instalou e tornou o estado refém...é INFERNAL!!!!!!!!!!! E agora? Não sei. O que sei é que de TODO não contribui para este estado de coisas, tenho 66 anos, descontei para a Seg Social durante 42 anos como empresário...tenho uma Pensão de 632 euros...

JPN disse...

Boa reflexão. E concordo contigo. Há uns restos de discurso neoliberal (engraçado ver o Silva Peneda hoje apontar-lhe a inutilidade e o nefasto contributo) que quando falam do Estado dizem funcionários públicos e se esquecem do problema que é a Administração Pública e a forma como ela está subordinada a interesses privados. :)

Anónimo disse...

Se Portugal tivesse Primeiros Ministros sérios e competentes...
Se Portugal tivesse Ministros sérios e competentes...
Se Portugal tivesse Secretários de Estado sérios e competentes...
Se Portugal tivesse Presidentes da Câmara sérios e competentes...
Se Portugal tivesse Chefes de Serviços sérios e competentes...
Etc. etc. etc. e por aí fora.
Se... enfim os portugueses tivessem a resposta certa na hora certa.....
Portugal seria um País com P grande
E não esta espécie de Paraíso para alguns e um Inferno para outros.
Boa noite

Hernâni Matos disse...

Solicito permuta de link entre o vosso e o meu blogue:

DO TEMPO DA OUTRA SENHORA
http://dotempodaoutrasenhora.blogspot.com

Saudações Culturais:

Hernâni Matos

ANTÓNIO AGOSTINHO disse...

Caro Senhor Luís:
a tal casta, não caiu do céu. Foi-se instalando à sombra do poder politico que governa este país desde 1974.
Os vícios foram ganhando espaço e quem tentou lutar contra a maré, teve de mudar de vida...
Ou considera que chegámos ao ponto em que estamos por obra e graça do espírito santo?
Mais: por aquilo que conheço nenhum governo, de esquerda ou de direita, consegue fazer nada, pois os vícios são tantos e estão tão entranhados na máquina, que pouco, ou nada, há a fazer...
Esclareço, para os devidos efeitos, que sei do que falo...
abraço

mdsol disse...

Muito útil esta distinção entre função pública e administração pública, sr. Barbeiro.

Mário Sérgio Felizardo disse...

fiquei estarrecido, com uma pequena amostra que nos foi servida via TV, nos célebres debates sobre o aeroporto da Ota. Aquele programa em foram protagonistas os engenheiros, deixou-me angustiado, por que me pintaram um esboço da Administração Pública..."é um fartar vilanagem"!!!!

Anónimo disse...

Gostei daquele anónimo que escreveu:
Se Portugal tivesse Primeiros Ministros sérios e competentes...
Se Portugal tivesse Ministros sérios e competentes...
Se Portugal tivesse Secretários de Estado sérios e competentes...
e por aí fora.
Ora aí está! O anónimo como todo o povo português excluí~se das responsabilidades.
A culpa é sempre dos outros.
Mas quem está a receber subsídio de desemprego e trabalha noutro lado é o povo, quem está a trabalhar e ao mesmo tempo a receber o rendimento mínimo é o povo, quem anda na construção cívil, não paga impostos, não passa facturas é o povo e por aí fora, agora sim era um nunca mais acabar.
O responsável por esta situação é nem mais nem menos que o povo. Vejam aqui o nosso barbeiro que parece ser atingido pelos cortes na função pública, o que significa que ganha mais de 1500 euros a queixar-se e está-se positivamente nas tintas para os desempregados, os que recebem 500 euros mensais e por aí fora.
Com um povo assim não há solução!

Anónimo disse...

O primeiro anónimo que escreveu o comentário dos "Ses..." sou eu. Eu quem? Um português que é funcionário do estado português que sente cada vez mais a incompetência a espalhar-se pelas várias direcções e chefias.
A administração pública portuguêsa necessita ser devidamente estruturada, mas de cima para baixo.
O problema não está no povo, está em quem o dirige.
Entendido????
Já agora e para finalizar, tenho as minhas contas em dia e não tenho calotes ao erário público.
Boa tarde

Luís Novaes Tito disse...

A anónimo (tinha de assim ser) que resolveu escrever nesta caixa de comentários que me estou nas tintas para os desempregados (e o resto da demagogia do costume) está muito mal informado. No entanto não o vou esclarecer melhor mas só dizer-lhe que para ganhar o que ganho tive de trabalhar toda a vida e que tenho todos os meus impostos em dia.
É com esses impostos que participo no esforço nacional para protecção aos desempregados, coisa que irá ser cada vez mais difícil por ter agora também de pagar com parte do meu vencimento para dar cobertura aos jantares que por aí se fazem.
A demagogia é sempre fácil, caro anónimo, no entanto nunca se esqueça que o que eu ganho é a compensação do trabalho que desenvolvo e como já disse no texto desafio quem quer que seja a provar que numa vida de trabalho fez mais ou melhor do que eu.

Luís Novaes Tito disse...

Caro A. Agostinho
Tem razão. A casta não caiu do céu mas digo-lhe que ela comporta todos as colorações políticas (sem excepção). Aliás é exactamente isso que a faz ter o poder que tem. No entanto só não se acaba com ela porque ainda ninguém teve coragem para a erradicar. Possivelmente sabem que essa gente tem na mão informações capazes de comprometer uns e outros e por isso são intocáveis.

Anónimo disse...

"o que significa que ganha mais de 1500 euros a queixar-se e está-se positivamente nas tintas para os desempregados, os que recebem 500 euros mensais e por aí fora.
Com um povo assim não há solução!"

Realmente o "anónimo" tem a sua razão: com um "povo"mesquinho,
invejoso,pequenino,que come tudo o que lhe dão as T.Vs e jornais, que tresanda a ódio,que não vê mais que a ponta do seu nariz ranhoso...
É verdade, acertou precisamente no espelho que certamente tem em sua casa....L.R.