Não é fácil sair-se à rua. Principalmente é difícil para quem participou activamente na construção da democracia e sabe que uma saída à rua, não enquadrada, pode ser sentida como um acto de rebelião contra a democracia representativa.
No entanto, há um outro sentir que, embora associado à ideia de democracia, é um valor superior à própria democracia, porque é algo de mais profundo e único e que ao contrário da democracia não tem significados vários, nem formas interpretativas diversas. A liberdade é um bem maior e, embora normalmente associada à democracia, não precisa dela para existir.
Foi em nome dessa liberdade (e num contexto democrático que talvez tenha extravado o conceito de democracia que sinto ter ajudado a construir em Portugal) que fui à Praça de Espanha no último sábado. Sabia o que lá iria encontrar e
senti-me bem acompanhado pela liberdade dos outros.
Na rua, como em tudo na vida, há e haverá sempre quem esteja com intuitos diferentes dos nossos, inclusivamente com intuitos de se aproveitar da nossa liberdade para chamar a si o que não lhe compete. Mal de nós se não soubermos que assim é e mal de quem se convence poder-se apropriar da liberdade dos outros.
Das centenas de milhar de cidadãos livres que se juntaram na Praça de Espanha, seguiram o seu rumo uns poucos de milhares para o confronto militante. Foi uma vontade de uns quantos e uma lição de que os cidadãos não se deixam manipular pelo hooliganismo. Já o deveriam ter aprendido nos campos de futebol.
Quanto à democracia representativa chegou a altura dos Partidos anotarem que a liberdade e a cidadania já são bens intrínsecos. É bom que, mesmo não havendo tempo para parar, os Partidos Políticos reflictam profundamente sobre aquilo que se passou no último Sábado e possam arrepiar caminho.
Se insistirem que a Nação é um conceito abstracto e a cidadania só um conjunto de votos e não de pessoas, podem vir a ser surpreendidos por um futuro que nunca entenderão.
LNT
[0.434/2012]