terça-feira, 20 de abril de 2010

E de repente emudeceram

Avião bate asasHá silêncios tão selectivos que até fazem um barbeiro ficar barbado. Quando se falam de alternativas nos transportes, TGV por exemplo, mas também aplicáveis à rede rodoviária, aos portos, etc., nunca falta quem se ligue aos megafones contra este, ou qualquer outro governo, porque a teoria é que, havendo um governo – há um bode-expiatório - e malhe sem dó nem piedade.

Se for um vulcão, ou um ataque terrorista, algo que faça os pássaros de ferro não voar, ai aqui d’ el-rei que a economia fica de pantanas. Se há um terramoto e as ligações terrestres são interrompidas, não faltarão vozes a reclamar a falta de alternativa.

No entanto, quando se fala de planos ou de modernização de infra-estruturas, mil vozes gritam esquecendo que a sua inexistência, normal ou extraordinária, poderá criar constrangimentos extremos.

A face visível, tal como quando se falava de um novo aeroporto internacional, são os passageiros e todos se esquecem que as cargas são tão ou mais importantes e criam tão grandes ou muito maiores problemas à economia.

As vozes, sempre mais que as nozes, falam agora que os aeroportos fecharam por excesso de zelo. O que diriam se algum avião se despenhasse em virtude de ter sido entupido pelas cinzas do Katla ou do seu vizinho?

Esta dualidade é o primeiro problema português (depois da inveja). Impossibilitar o avanço, bloquear o desenvolvimento, discutir até à exaustão aquilo que se não entende para, quando chegar a altura, malhar, ou dando voz ao hino, contra os canhões, malhar, malhar. Quando acontece o desmascarar desses comportamentos, o resultado é silêncio.

Já assim tinha sido com a guerra do Iraque, p.e.
LNT
[0.151/2010]

domingo, 18 de abril de 2010

Colaborador da Semana [ XCV ]

Tias das colaboradorasAo contrário do que é habitual, nesta semana não serão contempladas as colaboradoras mas sim as suas tias-mansas, pá.

Senhoras de tino, esticadas e com implantes, as tias mansas Soe Crátes e Lou Cã, são famosas neste estabelecimento depois de terem sido evocadas em pleno circo representativo, após algumas trocas de galhardetes que muito agradaram à clientela e que deixam imaginar a linguagem mais comum que usarão quando, fora do plenário, falam das tias de umas e outras, certamente evocando as suas partes mais íntimas.

Manso é a sua tia, pá! É a frase mais elegante que nesta barbearia se usa quando se pretende, com elevo, satisfazer a clientela ansiosa por mais um bom discurso das colaboradoras especiais que foram chamadas a representar o povão e que por isso se esforçam para usar terminologia de caserna.

Sempre agradecidos às colaboradoras que inovam e que com isso atraem a clientela, desta vez até a clientela das docas, fica a distinção para as tias mansas e recheadas de silicone.

É para elas o galardão da semana.
LNT
[0.149/2010]

Já fui feliz aqui [ DCCXXVIII ]

Capela do Rato
Capela do Rato - Lisboa - Portugal
LNT
[0.148/2010]

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Põe os corninhos ao Sol

CaracolEra assim que, em miúdo, tagarelava com os caracóis que insistiam em comer os jarros da casa onde vivia no meio de um bando de irmãos que nunca perdoavam a vida ranhosa que se desenvolvia no bolso da frente do meu bibe.

Sem o saber, promovia a baba dos animais e a mistela que resultava de um ou outro encontrão que algum dos maninhos fazia acontecer para que o esmagamento dos moluscos gastrópodes me provocassem uma lágrima de desalento e o raspanete da criada ao ver o estado deplorável em que o asseio da fardamenta ficava.

Era assim. Não havia caracol grande, pequeno, listado, ou liso que não fosse arrancado das folhas da planta de flor branca com um pirilau amarelo no meio para o recatado mundo que coabitava no tal bolso da frente do meu bibe. Dali eram retirados, com as enroladas cobras-de-café e os berlindes bichos-de-conta, para todo o tipo de brincadeiras, torturas e batalhas de morte travadas com as guardiãs do buraco das formigas gigantes da base do pinheiro existente no fim do quintal.

Caracol, caracol, põe os corninhos ao Sol, música que guardo para estes dias de início de Primavera chuvosa e ameaçada pelas cinzas do Katla islandês que fazem milhões de indígenas do velho continente esquecer voos rápidos e regressar aos pouca-terra.

Canto para dentro a musiqueta aguardando pacientemente vê-los, em manada e comprimidos em saquinhos rendados, para que lha cante de novo enquanto os instruo na brincadeira do estrafegamento pelo estrugido de orégãos e piripiri.
LNT
[0.147/2010]

Já fui feliz aqui [ DCCXXVII ]

Canárias
Canárias - Espanha
LNT
[0.146/2010]

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Bola de trapos

MatrecosSempre me questionei porque é que os portugueses gostam tanto de futebol e agora, depois do derby de Lisboa, faz-se luz quando oiço as conversas centradas nas entradas violentas "pela frente" e "por trás" e nas razões de que fazem coro para justificar a vitória de uns e a derrota de outros. Entendo que a bola é um entretém de milhões de viciados no jogo do empurra, um desporto que tem por regra não assumir culpas próprias e remeter para os outros as suas próprias incapacidades e constrangimentos.

Daí, imagino bancadas e poltronas cheias de desportistas que nunca suaram, a exigirem que outros corram por si, outra das características de quem há séculos espreita o mar na esperança de avistar as velas das naus capitaneadas por Dom Sebastião.

Junto a estes ingredientes a pitada que consiste no tratamento indigente de um rectângulo feito bola de trapos ao sabor dos chutos de quem o conduz e concluo porque é que o futebol é o catalisador do desígnio nacional.
LNT
[0.145/2010]

terça-feira, 13 de abril de 2010

Esgravatar

arame farpadoEsgravatamos e escarafunchamos em busca de soluções e, cada vez que nos dirigimos para elas, surgem os homens da pá com problemas a rodos para soterrar os problemas antigos num ciclo inútil de escarafunchamento e de submersão.

Neste arrastar de vazio não há tempo nem espaço para a segmentação da complexidade sobrando mais de nada a acrescentar ao nada impingido como valor. Uma sequência, ou melhor, uma multiplicação por zero.

E assim ficamos onde estamos, a esgravatar e a escarafunchar túneis sem destino e com uma equipa avançada que tapa todas as frestas de luz.

Esgravatamos e escarafunchamos como os miúdos fazem na praia sem o cuidado de escorar a areia seca.
LNT
[0.143/2010]

Já fui feliz aqui [ DCCXXV ]

Hotel Albacora
Hotel Albacora - Tavira - Portugal
LNT
[0.142/2010]

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Conversas da treta












LNT com as dicas de Maloud e Pedro Novaes Tito
[0.141/2010]

A importância dos cestos de papeis

Ana Vidigal
Houve um tempo, espantem-se os mais jovens, em que não havia telemóveis e por isso não era possível fazer escutas aos telemóveis (adoro paliçadas).

Nesse tempo já havia, no entanto, quem à falta de telemóveis fizesse escutas aos cestos de papéis.

Se pensa que isto é esquisito faça o favor de seguir este link e clique na segunda imagem do texto "Prisões" para ler, em formato grande, como se faziam as escutas desse tempo e para comprovar que já na altura eram sempre:

"a bem da nação"

LNT
Imagem: Ana Vidigal
[0.140/2010]

As cartolas dos coelhos

Coelho cartolaHá coisas que custam muito a entender. Uma delas, p.e., é o que quererá dizer:

"quem recebe apoios solidários da Nação deverá prestar trabalho de compensação à Nação." (citado de memória)

É que, se quem recebe esses apoios solidários os recebe por estar desempregado, então o trabalho de compensação deveria ser substituído por trabalho remunerado e ser-lhe cortado o apoio solidário. Era mais normal, mais humano, economicamente mais útil, em termos de segurança social e de finanças mais contributivo (e até ficaria mais barato pelo retorno de parte ao fisco e à SS) e era mais solidário.

Se os recebe por incapacidade ou doença não se entende o trabalho que deveria prestar.

Como diria um amigo meu que inventou uma lengalenga sobre os nomes das povoações da "Linha" onde se cantam os amores e desamores de um nobre por uma tal princesa Karca, é tempo de como ele questionar:

"Karca, vê-los?"
LNT
[0.139/2010]

Já fui feliz aqui [ DCCXXV ]

Jarro brazão
Jarro português - Minho - Portugal
LNT
[0.138/2010]

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Coisas do sobrenatural

25

Manuel Alegre
"O miúdo que pedalava num carro de quatro rodas poderia dizer, como eu próprio já disse: Isto é o que sei de literatura.

Mas ainda falta acrescentar que o miúdo que tocava piano sobre a mesa viu Miguel Torga no hospital segurando o caderno e a caneta como quem, no campo de batalha, ferido de morte, não larga as armas. Eram já poucas as forças, mas a mão mantinha-se firme na caneta e no caderno. Não queria ser apanhado desprevenido (ou desarmado) se uma vez mais lhe aparecesse aquele primeiro verso, que sempre nos é dado, como costumava dizer. Estava preparado, porque nunca se sabe, como se diz na Bíblia, quando vem o sopro e de que lado sopra. A terra respira de muitas formas. Pela boca do vulcão Santiago, pela flauta de Camilo Pessanha, pela grafia do poeta que escrevia pela noite dentro, pelas primeiras e pelas últimas palavras de Sophia e, sobretudo, pela sua entoação de um ritmo já só ritmo. E pelo pulso de Miguel Torga, por aquela mão antiga a segurar o caderno e a empunhar a caneta até ao fim."
Um poema feito prosa pela mão de um poeta presidente, coisa que não pode deixar um País indiferente.
LNT
[0.134/2010]

Já fui feliz aqui [ DCCXXIII ]

O miudo que pregava pregos numa tábua
O miúdo que pregava pregos numa tábua - Manuel Alegre - Lisboa - Portugal
LNT
[0.133/2010]

terça-feira, 6 de abril de 2010

Para que a praça da canção não seja uma ilusão

João SoaresOuvi, com a atenção do costume, a entrevista que João Soares deu no passado fim-de-semana ao Rádio Clube Português.

João Soares merece-me esse tempo de atenção. Ouvi-lo permite-me com ele concordar em muito e em muito discordar, um hábito de décadas que quase sempre nos fizeram estar do mesmo lado da barricada quando o combate foi externo e muitas vezes em oposição dentro do PS.

A excepção externa foi a anterior candidatura de Manuel Alegre à Presidência da República, que espero não se venha a repetir, mas que foi e é um ponto de divergência no conceito do papel fundamental do Presidente da República, que João Soares trata com displicência chegando ao limite de nele (no papel) ainda ver semelhanças com o de corta-fitas da ditadura.

Voltei a ouvir João Soares falar num candidato do PS, coisa inexistente, porque estamos a falar de candidatos à Presidência da República. As forças partidárias devem prescindir da tentação de querer na Presidência da República uma extensão da sua hierarquia.

É um conceito fácil de entender e basta a João Soares lembrar-se do slogan que tantas vezes repetiu: - "o Presidente de todos os portugueses" – para não falar no candidato do PS. O candidato do PS à presidência é eleito no seu Congresso Nacional e destina-se a presidir ao Partido Socialista.

Manuel Alegre não tem, nem deve, ser o candidato do PS. Tem e deve ser um candidato nacional que se compromete com os seus eleitores a cumprir e fazer cumprir a Constituição sem subordinar essa missão aos interesses de uma ou outra força política.

O Partido Socialista e as outras forças de esquerda, apoiarão um ou outro candidato e aconselharão os seus militantes a votarem no candidato que melhores garantias dá para o bom e independente, mas não indiferente, desempenho do cargo.

Não se espera do PS que tente impor um candidato porque isso resultará, como é patente, na vitória do quadrante político de sinal contrário, ainda para mais numa disputa em que o candidato que federa a direita portuguesa se candidata à sua própria sucessão.

Falamos de política, de interesse nacional e da visão política. Confundir isto com tricas pessoais e familiares ou com estados de alma só poderá levar o actual líder da direita, em si representada, a manter o poder por mais cinco anos.
LNT
[0.132/2010]

Já fui feliz aqui [ DCCXXII ]

Museu da Marinha
Museu da Marinha - Lisboa - Portugal
LNT
[0.131/2010]

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Dominus vobiscum

AviãoHá dias de imensa nostalgia, mesmo sendo dias azuis como o de hoje em que só falta o fumo gordo das sardinhas para que se julgue ser já tempo de ripanço e banhos de mar.

Há dias assim, em que a coisa "ser pai" sai assustadoramente do esconderijo, sacada por um beijo repenicado e pelo agitar das asas.

Há dias que não valem horas, dias egoisticamente sôfregos de extinção.

Dominus vobiscum
LNT
[0.130/2010]

Já fui feliz aqui [ DCCXXI ]

Porto Côvo
Porto Côvo - Alentejo - Portugal
LNT
[0.129/2010]

sábado, 3 de abril de 2010

Tempo de ser ovíparo

Cão com coelho na bocaNeste tempo em que os coelhos andam numa roda-viva para conseguirem o impossível, isto é, passarem de vivíparos a ovíparos, ainda por cima choco-ovíparos, a concentração esvai-se em sonhos gulosos e distraiam-se dos predadores.

Há coelhos e coelhas que aguardam a altura pascal para irem a votos, outros que emergem da cartola dos magos e outros ainda que, embalados pela florescência primaveril, desatam a correr sem rumo com o intuito de apurar a banalidade de saber se precederam os ovos ou se foram por eles precedidos.

Seja como for, coelhos e ovos combinam e, se a magia branca é a característica da época, que se concretize nas doçuras de um mistério da fé.

Votos para que os láparos se mantenham atentos e doces e que, como para todos vós, tenham aquilo que se designa por uma Santa Páscoa.
LNT
[0.128/2010]

Já fui feliz aqui [ DCCXX ]

Manifesto Contra a Racionalidade
Manifesto Contra a Racionalidade - João Gomes de Almeida - Portugal
LNT
[0.127/2010]

quarta-feira, 31 de março de 2010

Downgrade no PPD?

Pirilampo Laranja

Se até agora a bancada do PPD era dirigida nos debates com o Primeiro-ministro por Branco, hoje é dirigida por Branquinho.

O PPD fez o downgrade português acrescentando valor negativo por imposição do diminuitivo.

Portugal dos pequeninos, ou dos pequenitos, ou dos pequenininhos, ou dos pequerruchos, ou dos pequenotes. Portugalito.
LNT
[0.126/2010]

Repastos magricelas

Ceias
LNT
[0.125/2010]

domingo, 28 de março de 2010

Colaborador da Semana [ XCIV ]

Pacheka Adivinharam.

A nossa colaboradora da semana é Pacheka Marmeleira, moça de farta pilosidade que a caracteriza, desde os tempos gloriosos em que lia Mao e guinchava slogans sobre a classe operária com a mesma convicção com que hoje guincha outros sobre a intelectualidade marmelense, como colaboradora de grande profundidade e muito acerto.

Essa característica (a pilosidade) fá-la ser uma das mais concorridas colaboradoras desta casa embora sempre que as suas colegas votam, ela fique reduzida à ínfima espécie. No entanto o agrado que provoca nos líderes da comunicação social que nos visitam e que estão sempre abertos a dar-lhe mais um lugar de relevo, embevecidos com a sua tendência para a auto-satisfação, atrai fortes capitais aos cofres do estabelecimento e levam a mulher-barbada ao patamar das contempladas com o galardão da semana.

A sempre derrotada nas urnas, mas sempre relevante nas massagens tântricas do ego, Pacheka Marmeleira, é marinheira de águas doces mas usa os binóculos do poder com mestria de patrão de costa. É aquilo a que se chama "moeda boa".

Está de parabéns por mais esta derrota, merece o destaque.
LNT
[0.123/2010]