Escritas, leituras e reescritas
Recebi da Dom Quixote a carta com o recibo dos direitos de autor do ano passado. Coisa pouca neste universo curto de pouca coisa, que é Portugal. Mas foi algo que me remeteu uma vez mais para a releitura de uma comunicação feita num encontro internacional de Ciências da Comunicação, da autoria de Luís Filipe de Bragança Teixeira, com o título Figurações Maquínicas da Escrita I.O: Em torno da palavra digital e da escrita tipográfica.
Em determinado passo diz o autor que temos de repensar, com o aparecimento do conceito de biblioteca electrónica, as noções jurídicas (propriedade literária, direitos de autor e copyright); as noções regulamentares (depósito legal e conceito de bibliotecas nacionais); e as noções processuais (catalogação, classificação e discrição bibliográfica).
Não é só por uma questão do suporte onde reside a escrita pois, ao contrário do livro, o ecrã (substituto do codex) permite organizar, estruturar e alterar a consulta, o que transforma o objecto inicialmente criado.
Se um texto não só não é o que lemos nele, também não é só o que alguém nele escreveu. Um texto é uma série de produtos cruzados numa rede matricial – linguística, tecnológica e histórica – perceptível de forma diversa por quem o lê e que o interpreta com a aplicação dos conceitos e as técnicas que detém. Desta forma, poderemos dizer que muitos textos deixam de ter autor, no sentido tradicional do termo.
Os direitos perdem-se? Não sei, mas sei que no publicar electrónico muita da nossa inventiva aparece transcrita no multiplicar de outros autores que agarram a criatividade terceira para reconstruir, com outras letras e noutra estrutura, coisas que foram criadas para serem originais.
LNT
Rastos:
-> Figur@ções maquínicas da escrita 2.0 - Luís Filipe de Bragança Teixeira
-> Escritas mutantes - Luís Filipe de Bragança Teixeira
-> CECL