Estava o barbeiro embrenhado nestes pensamentos do: "lá andam estes gajos a tratar da vidinha em vez de tratarem da nossa vida que foi para isso que os elegemos" quando entrou o Sô Tor.
Sô Tor era um personagem do bairro a quem ninguém conhecia o nome. O Sr. Luís sempre tinha achado estranho aquela designação porque o homem não era médico e, se fosse assim chamado por ser licenciado, ainda mais estranho lhe parecia uma vez que toda a canalhada do bairro também o era (a maior parte até tinha tirado um mestrado para depois aprender um ofício como era o caso do Zé taxista que andava agora com o turno da noite do pai por não ter singrado no seu mister) e todos os tratavam pelo primeiro nome.
Sô Tor era um homem bem apessoado que ninguém sabia o que fazia a não ser que passava a vida a viajar para os Camões, Camarões, Caimões ou lá o que era, e que se gabava de não pagar impostos embora nunca perdesse uma oportunidade para chamar de chulos todos os outros moradores da zona que eram professores, médicos, informáticos, advogados e engenheiros desde que trabalhassem no Estado.
- Bom dia, Sô Tor, faça a fineza de se sentar e dizer-me ao que vem hoje.
- É para um caldinho, Sr. Luís, um caldinho bem dado e vá preparando a facturinha com o número de contribuinte para ver se eu ganho um Audi e fico como aquele senhor que andava de Vespa até que sentou o rabinho no poder para se encher com o que descontamos.
- Mas o Sô Tor diz que não paga impostos!
- E não pago! Mais faltava andar a encher os bolsos desta gentalha.
LNT
[0.200/2014]
Imagem: http://www.gutenberg.org/
Sô Tor era um personagem do bairro a quem ninguém conhecia o nome. O Sr. Luís sempre tinha achado estranho aquela designação porque o homem não era médico e, se fosse assim chamado por ser licenciado, ainda mais estranho lhe parecia uma vez que toda a canalhada do bairro também o era (a maior parte até tinha tirado um mestrado para depois aprender um ofício como era o caso do Zé taxista que andava agora com o turno da noite do pai por não ter singrado no seu mister) e todos os tratavam pelo primeiro nome.
Sô Tor era um homem bem apessoado que ninguém sabia o que fazia a não ser que passava a vida a viajar para os Camões, Camarões, Caimões ou lá o que era, e que se gabava de não pagar impostos embora nunca perdesse uma oportunidade para chamar de chulos todos os outros moradores da zona que eram professores, médicos, informáticos, advogados e engenheiros desde que trabalhassem no Estado.
- Bom dia, Sô Tor, faça a fineza de se sentar e dizer-me ao que vem hoje.
- É para um caldinho, Sr. Luís, um caldinho bem dado e vá preparando a facturinha com o número de contribuinte para ver se eu ganho um Audi e fico como aquele senhor que andava de Vespa até que sentou o rabinho no poder para se encher com o que descontamos.
- Mas o Sô Tor diz que não paga impostos!
- E não pago! Mais faltava andar a encher os bolsos desta gentalha.
LNT
[0.200/2014]
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