terça-feira, 11 de maio de 2010

3fs

Carris sauda o PapaPreparai-vos que em breve tereis o terceiro f.

Depois de Jesus ter levado o Glorioso à varanda da República, na Praça do Município, vistes hoje Ratzinger, Benedictus XVI, em carne e osso e na Praça do Comércio a apelar à fé, e vereis por fim, lá para o fim da semana, depois de tantas e tão fortes emoções, o f. que aí vem.

Não sei se vos cuidais do coração mas ide-vos preparando pois quer-me parecer que, à excepção de uma mão cheia de gestores públicos e semi-públicos, todos vós ireis ter no Natal um sapato grande demais para tão curtas prendas.

Rezai, pois!

Pode ser que o Verão ainda traga um milagre da África do Sul que vos encha de consolo e vos faça esquecer, ou vos evoque para a misericórdia, na remissão dos pecados de quem nos mete a mão no bolso e coloca o pouco que lá encontra no bolso de outros.

Louvados sejam!
LNT
[0.172/2010]

Já fui feliz aqui [ DCCXXXVIII ]

Interface
Creoula - Lisboa - Portugal
LNT
[0.171/2010]

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Os magos a caminho de Belém

Pé peregrinoA coisa mais interessante de alguns espécimes da Humanidade é a capacidade de se enrolarem, tentando enrolar-nos. Há humanos mais enrolados do que outros mas em Portugal a tendência dos enrolados para se desculparem com o seu enrolado aproxima-se da magia.

Digo magia porque só magos se dirigem a Belém para entregar mirra e incenso, que do ouro que desbarataram nada ficou para oferecer, num enrolanço de fazer crer que o estado demoníaco em que nos encontramos não faz parte das suas incapacidades passadas o que, mesmo em tempos do sobrenatural que proporcionam a Jesus não ser pregado na Luz e a Sua Santidade visitar-nos apesar da nuvem de enxofre expelida pelo fogo eterno, lhes garante lugar entre os alquimistas capazes de boa moeda.

Se esta gente, estes magos, tivessem vergonha na cara e conseguissem perceber que a sua quota parte de responsabilidade levou o País às portas da miséria, se se lembrassem que a condição que os leva a Belém com a mirra no bolso e o perfume do incenso é exactamente a de terem sido Ministros do descalabro das Finanças, seguiriam melhor para Fátima, e de joelhos, para pedirem perdão e sem pretensões de nos darem mais um sermão.
LNT
[0.170/2010]

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Maio, mês das flores

Aníbal AfonsoDepois de uns dias recolhido na penumbra, que o Sol não está para brincadeiras, saio à rua para retomar a actividade e o stress e, tal como nos anos anteriores por esta altura, descubro que elas, as que hibernam no Inverno, voltaram a desabrochar.

Não babo, que ainda não cheguei aí, mas espanto-me por verificar que não há crise que as maltrate e pelo poder que a natureza tem para as fazer sair dos casulos onde se escondem quando o tempo está de borrasca e as espevita após o equinócio vernal sempre que os ares condicionados lhes acertam um sopro mais fresco.

Aí estão de novo. Saltitantes nas corridas para a lufa-lufa e generosas na inclinação.
LNT
[0.168/2010]

Já fui feliz aqui [ DCCXXXVII ]

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Tecnologia - Interface - Portugal
LNT
[0.167/2010]

terça-feira, 4 de maio de 2010

Engavetados

Salvador DaliAs notícias não são grande coisa. Trinta e seis anos não são muito tempo mas, se em vez de termos andado a guardar na gaveta as verdadeiras soluções as tivéssemos posto em prática, possivelmente a falta de notícias seria a nossa melhor notícia.

É verdade que as democracias sociais do norte da Europa não são grande notícia.

Por lá vive-se razoavelmente bem, os níveis de desenvolvimento não são maus, ninguém lhes aponta o dedo como se aponta a uma formiga que se quer esmagar e o estado social é bem tolerado. Eram modelo há trinta e seis anos, talvez o tempo suficiente para ter formado sem preconceitos doutorais e ter dado a gente que agora tem quarenta e seis anos uma preparação cívica suficiente que lhes tivesse permitido criar os filhos com horizontes mais abertos, como se estivessem num País próspero.

Maldita gaveta.
LNT
[0.166/2010]

domingo, 2 de maio de 2010

sábado, 1 de maio de 2010

Escrever

Livro da 1ª ClasseJá se vêem por aí os mestres da escrita. Dizem que a coisa deve ser fluente, de leitura fácil, curta, sem palavras para além do palavrear corrente e sem leituras para lá daquilo que se quis escrever.

Ignorante destas coisas, barbeiro de profissão e tacanho por inerência insisto, quando escrevo, porque também há o não escrever por vontade própria e não por preguiça, que esta coisa do escrever tem dias e se em alguns se rebusca no segundo ou décimo sentido, noutros, quando a vontade de escrever é mais do que a do lazer, ou simplesmente não escrever, a escrita pode não ser mais do que isto de dizer aos mestres que estamos fartos deles.

Não meus caros leitores, clientes, ou o que quer que sejam desse lado de lá, não é um arrufo de mau feitio e de ausência. Não é uma justificação para o pouco que aqui se tem escrito, mas somente um desabafo, talvez mais cansado do que desiludido com o passar do tempo que nada faz passar.

Mas fartam estes mestres sem discípulos.

Isto é um espaço de criatividade e de irreverência. Um caderno de apontamentos, diário intermitente, passatempo, desassossego e intranquilidade.

Assim manda a liberdade e a criatividade, longe do ter de... e das regras da escola do saber.

Sempre grato aos muitos milhares, talvez só alguns muito frequentes, que se sentam nestas cadeiras e inclusive se zangam com a falta de letras.
LNT
[0.164/2010]

Já fui feliz aqui [ DCCXXXV ]

Sr. Peixe
Sr. Peixe - Parque das Nações - Lisboa - Portugal
LNT
[0.163/2010]

sexta-feira, 23 de abril de 2010

puff!

Formiga

Triste sina, a das formigas.

Depois de terem expulso a casta maior para os campos da Argentina, entre churrascos de picanha e de filé, padecem esmagadas por um polegar mais robusto assim que tocam a pele de um homem.

Até para elas a realidade é tramada, acreditem!
LNT
[0.158/2010]

Das barbas e dos barbeiros

João Espinho - BarbeiroDizia o Pedro Correia, aqui há uns dias, que a abertura democrática em Cuba era evidente perante a liberalização e a privatização das barbearias, desde que não tivessem mais do que três cadeiras. Quer isto dizer que, se esta barbearia estivesse sob o manto democrático cubano e dado que nela existem quase 300.000 cadeiras (exagero do sitemeter), não lhe restava outra solução senão a estatal e aqui andaria este miserável barbeiro, que nada ganha com isto a não ser amores e ódios dos seus clientes, às ordens de um qualquer Bernardino, ou quejando.

O escrito de PC (Pedro Correia, leia-se) fez-me deixar lá um comentário a informar que haveria de pegar no assunto, mas agora que o assunto fica presente, apetece-me só dizer que a grande democracia de Cuba e o povo cubano mereciam mais dos manos Castro.

Merecia, por exemplo, que deixassem barbeiros como Yoani Sánchez cortar a eito o cabelo de cabeludos sem que lhe travassem a tesoura.

É que, até mesmo os últimos dinossáurios, merecem ser devidamente escanhoados e tosquiados sem que o Estado intervenha.

Por este andar, ainda havemos de ver, em Cuba, policiais armados em políticos e uma Assembleia Nacional a fazer o papel interrogador de uma polícia política (mesmo que encalhada, como diz o barbudo nacional).
LNT
[0.157/2010]

Já fui feliz aqui [ DCCXXXII ]

Balugães
Balugães - Minho - Portugal
LNT
[0.156/2010]

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Repouso

AlgemasLigar a televisão e assistir a deputados que erraram na profissão e agora têm forma de ser interrogadores, coisa que lhes corre no sangue, profissão falhada porque nunca tiveram coragem de ir para a polícia, retira o repouso que nos aconselham, soma preocupações à preocupação, faz pensar que afinal o nosso voto não foi para legisladores mas sim para pagar bem a maus polícias.

Vejo estas comissões de inquérito, dizem que para apurar a responsabilidade política, a questionar para saberem o que os seus interrogados “acham” ou “entendem” e aumenta-me a azia, acresce-me a descrença e assalta-me a dúvida se valerá a pena o trabalho de escolher, nas urnas e em voto secreto, interrogadores que não são policiais, nem juízes, para lhes pagar por inútil trabalho o dinheiro que deveria ser gasto em profissionais policiais ou judiciais especializados.

Isto cansa.
LNT
[0.155/2010]

Já fui feliz aqui [ DCCXXXI ]

Mértola
Mértola - Alentejo - Portugal
LNT
[0.154/2010]

terça-feira, 20 de abril de 2010

E de repente emudeceram

Avião bate asasHá silêncios tão selectivos que até fazem um barbeiro ficar barbado. Quando se falam de alternativas nos transportes, TGV por exemplo, mas também aplicáveis à rede rodoviária, aos portos, etc., nunca falta quem se ligue aos megafones contra este, ou qualquer outro governo, porque a teoria é que, havendo um governo – há um bode-expiatório - e malhe sem dó nem piedade.

Se for um vulcão, ou um ataque terrorista, algo que faça os pássaros de ferro não voar, ai aqui d’ el-rei que a economia fica de pantanas. Se há um terramoto e as ligações terrestres são interrompidas, não faltarão vozes a reclamar a falta de alternativa.

No entanto, quando se fala de planos ou de modernização de infra-estruturas, mil vozes gritam esquecendo que a sua inexistência, normal ou extraordinária, poderá criar constrangimentos extremos.

A face visível, tal como quando se falava de um novo aeroporto internacional, são os passageiros e todos se esquecem que as cargas são tão ou mais importantes e criam tão grandes ou muito maiores problemas à economia.

As vozes, sempre mais que as nozes, falam agora que os aeroportos fecharam por excesso de zelo. O que diriam se algum avião se despenhasse em virtude de ter sido entupido pelas cinzas do Katla ou do seu vizinho?

Esta dualidade é o primeiro problema português (depois da inveja). Impossibilitar o avanço, bloquear o desenvolvimento, discutir até à exaustão aquilo que se não entende para, quando chegar a altura, malhar, ou dando voz ao hino, contra os canhões, malhar, malhar. Quando acontece o desmascarar desses comportamentos, o resultado é silêncio.

Já assim tinha sido com a guerra do Iraque, p.e.
LNT
[0.151/2010]

domingo, 18 de abril de 2010

Colaborador da Semana [ XCV ]

Tias das colaboradorasAo contrário do que é habitual, nesta semana não serão contempladas as colaboradoras mas sim as suas tias-mansas, pá.

Senhoras de tino, esticadas e com implantes, as tias mansas Soe Crátes e Lou Cã, são famosas neste estabelecimento depois de terem sido evocadas em pleno circo representativo, após algumas trocas de galhardetes que muito agradaram à clientela e que deixam imaginar a linguagem mais comum que usarão quando, fora do plenário, falam das tias de umas e outras, certamente evocando as suas partes mais íntimas.

Manso é a sua tia, pá! É a frase mais elegante que nesta barbearia se usa quando se pretende, com elevo, satisfazer a clientela ansiosa por mais um bom discurso das colaboradoras especiais que foram chamadas a representar o povão e que por isso se esforçam para usar terminologia de caserna.

Sempre agradecidos às colaboradoras que inovam e que com isso atraem a clientela, desta vez até a clientela das docas, fica a distinção para as tias mansas e recheadas de silicone.

É para elas o galardão da semana.
LNT
[0.149/2010]

Já fui feliz aqui [ DCCXXVIII ]

Capela do Rato
Capela do Rato - Lisboa - Portugal
LNT
[0.148/2010]

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Põe os corninhos ao Sol

CaracolEra assim que, em miúdo, tagarelava com os caracóis que insistiam em comer os jarros da casa onde vivia no meio de um bando de irmãos que nunca perdoavam a vida ranhosa que se desenvolvia no bolso da frente do meu bibe.

Sem o saber, promovia a baba dos animais e a mistela que resultava de um ou outro encontrão que algum dos maninhos fazia acontecer para que o esmagamento dos moluscos gastrópodes me provocassem uma lágrima de desalento e o raspanete da criada ao ver o estado deplorável em que o asseio da fardamenta ficava.

Era assim. Não havia caracol grande, pequeno, listado, ou liso que não fosse arrancado das folhas da planta de flor branca com um pirilau amarelo no meio para o recatado mundo que coabitava no tal bolso da frente do meu bibe. Dali eram retirados, com as enroladas cobras-de-café e os berlindes bichos-de-conta, para todo o tipo de brincadeiras, torturas e batalhas de morte travadas com as guardiãs do buraco das formigas gigantes da base do pinheiro existente no fim do quintal.

Caracol, caracol, põe os corninhos ao Sol, música que guardo para estes dias de início de Primavera chuvosa e ameaçada pelas cinzas do Katla islandês que fazem milhões de indígenas do velho continente esquecer voos rápidos e regressar aos pouca-terra.

Canto para dentro a musiqueta aguardando pacientemente vê-los, em manada e comprimidos em saquinhos rendados, para que lha cante de novo enquanto os instruo na brincadeira do estrafegamento pelo estrugido de orégãos e piripiri.
LNT
[0.147/2010]

Já fui feliz aqui [ DCCXXVII ]

Canárias
Canárias - Espanha
LNT
[0.146/2010]

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Bola de trapos

MatrecosSempre me questionei porque é que os portugueses gostam tanto de futebol e agora, depois do derby de Lisboa, faz-se luz quando oiço as conversas centradas nas entradas violentas "pela frente" e "por trás" e nas razões de que fazem coro para justificar a vitória de uns e a derrota de outros. Entendo que a bola é um entretém de milhões de viciados no jogo do empurra, um desporto que tem por regra não assumir culpas próprias e remeter para os outros as suas próprias incapacidades e constrangimentos.

Daí, imagino bancadas e poltronas cheias de desportistas que nunca suaram, a exigirem que outros corram por si, outra das características de quem há séculos espreita o mar na esperança de avistar as velas das naus capitaneadas por Dom Sebastião.

Junto a estes ingredientes a pitada que consiste no tratamento indigente de um rectângulo feito bola de trapos ao sabor dos chutos de quem o conduz e concluo porque é que o futebol é o catalisador do desígnio nacional.
LNT
[0.145/2010]

terça-feira, 13 de abril de 2010

Esgravatar

arame farpadoEsgravatamos e escarafunchamos em busca de soluções e, cada vez que nos dirigimos para elas, surgem os homens da pá com problemas a rodos para soterrar os problemas antigos num ciclo inútil de escarafunchamento e de submersão.

Neste arrastar de vazio não há tempo nem espaço para a segmentação da complexidade sobrando mais de nada a acrescentar ao nada impingido como valor. Uma sequência, ou melhor, uma multiplicação por zero.

E assim ficamos onde estamos, a esgravatar e a escarafunchar túneis sem destino e com uma equipa avançada que tapa todas as frestas de luz.

Esgravatamos e escarafunchamos como os miúdos fazem na praia sem o cuidado de escorar a areia seca.
LNT
[0.143/2010]