segunda-feira, 2 de julho de 2012

As canas da barbearia

CanasA Barbearia fez-se canavial para que, com essas canas, se proteja dos patos bravos que sacaneiam este povo.

Como se sabe, todos os patos bravos são protegidos em Portugal.

Partindo dessa premissa e sabendo que os patos bravos se escondem nos canaviais e sabendo também que é voz popular de que a melhor protecção é a que mantém os inimigos debaixo de olho e à mão de semear, dispuseram-se as canas e afinaram-se os cartuchos.

A clientela habitual há-de ser bafejada, um destes dias, com uma arrozada.

Até lá recostem-se e fiquem a vê-los voar.
LNT
[0.329/2012]

Mais além

Escher Mobius
“O ir mais além é uma forma que Passos Coelho e Paulo Portas arranjaram para verem até onde podem ir.
Começa a ser tempo dos portugueses lhes dizerem que já foram longe demais.”
Moi même in FB
Enquanto que na Europa já quase todos entenderam que as medidas de austeridade impostas aos países mais frágeis têm de ser revistas por estarem a destruir o próprio conceito da Europa, em Portugal Passos Coelho e Paulo Portas consideram que o empobrecimento do seu povo é o desígnio nacional e que as medidas que nos foram impostas são curtas, insistindo em ir mais além do que internacionalmente nos é exigido.

O “além de” é um programa de retrocesso civilizacional, é uma obsessão pelo passado, é um aquém daquilo que a nossa História admite, é uma atitude política escondida cobardemente num memorando de resgate exigido pelos que agora o apregoam como herança para esconderem aquilo que pretenderam para Portugal quando inviabilizaram soluções alternativas.

Recebo pedidos de esclarecimento para o texto que aqui publiquei. Estranho, porque não vejo nele qualquer dúvida ou contradição. Nós, portugueses, vivemos em democracia há quase 40 anos. Não é muito, porque o período que a antecedeu formou gerações de conformados com a miséria e com a falta de liberdade. Fez-nos mansos, carne para canhão, submissos e “bons alunos”. Mas trinta e seis anos já é tempo suficiente para que entendamos que, sendo o voto o poder que temos na mão, ao abdicarmos de o exercer sujeitamo-nos a ser submetidos por minorias.

Nas últimas presidenciais e nas últimas legislativas o direito e o dever de voto não foram exercidos. Muitos dos que não se revêem no “mais além, custe o que custar” entregaram, por omissão, o poder a quem hoje o exerce e reclamam medidas. Alguns outros que se apressaram a provocar que Portugal tenha hoje o Presidente e o Governo que tem, organizam “esperas espontâneas” onde apupam os poderes que ajudaram a instalar, tentando manipular com as suas bandeiras um povo levado ao limite por quem entende, custe o que custar, que esse povo terá de pagar com a fome a fartura de quem o rouba.

Tal como disse no meu texto anterior este povo gosta de chorar sobre o leite derramado mas o leite já rareia e, à sua falta, as lágrimas irão secar. Os que continuam a não entender que já foram além demais e os que até agora orquestraram os apupos para tirarem proveito da terra queimada vão acabar por perder o controlo.

A Constituição que determina que o poder reside no Povo através do voto é a mesma que institui o direito de resistência quando não há poder público que defenda os direitos liberdades e garantias que essa Constituição consagra.

Foi isto que quis dizer anteriormente e espero ter-me feito agora entender.

É necessário que os poderes instituídos se façam ouvir e que impeçam a continuidade pela obsessão do miserabilismo que se prevê com o novo pacote de austeridade que já se anuncia (só falta dizer quando). A todos nós compete assumir, se necessário resistindo ao confisco e exigindo justiça e equidade, as responsabilidades que a liberdade determina para que continuemos a ser um povo digno, não espoliado nem manipulado.
LNT
[0.328/2012]

Já fui feliz aqui [ MCXLIV ]

Encerramento das CCTM
Comemorações do Centenário de Tito de Morais - Lisboa - Portugal
LNT
[0.327/2012]

sábado, 30 de junho de 2012

Quando se insiste em ir sempre além de...

ÁlvaroOs portugueses gostam de se manifestar pacificamente e chocam-se quando vêm outros portugueses manifestarem-se violentamente.

Os portugueses têm este condão de levar as escrituras à letra e de darem a outra face sempre que lhes estalam mais uma bofetada na cara.

Mas os portugueses, mais vezes do que aquelas que lhes querem fazer crer, já explicaram a outros (portugueses, espanhóis, ingleses e franceses) que além de bochechas também têm outra mão para dar quando a mão que lhes acerta ultrapassa a racionalidade e os seus princípios de sobrevivência e dignidade correm risco.

Até agora, depois dos portugueses terem retornado à democracia, sempre que em vez da outra face ofereceram a mão, houve organização por trás. Um dia também isto poderá modificar-se. Basta que os limites continuem a ser ultrapassados e não se consciencializem de que a impunidade e a prepotência têm de ser processadas dentro de parâmetros aceitáveis.

Os portugueses gostam de chorar sobre o leite derramado, mas tem de haver leite para derramar. Caso contrário secam as lágrimas e passam à acção.
LNT
[0.326/2012]

Já fui feliz aqui [ MCXLIII ]

Jacarandá
Jacarandás - Lisboa - Portugal
LNT
[0.325/2012]

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Os bons alunos dos maus professores

MagritteOra bem, lá parece que nem todos os resgates têm de ter a forma de memorando e nem todos os apoios têm de exigir a destruição do tecido social.

Espanha está aí para demonstrar aos defensores da austeridade irracional e do custe o que custar que há outras formas de tratar os problemas, principalmente quando a intenção é resolvê-los e não multiplicá-los e principalmente quando se procuram soluções para os problemas e não subterfúgios justificativos para ideologias radicais.

É uma boa ocasião para recordar que só se avançou para a solução que existe em Portugal (e que ainda por cima tem vindo a ser desvirtuada devido à teoria do “mais além”) porque se recusou a alternativa que os nossos parceiros europeus se tinham disponibilizado a apoiar. É boa ocasião para relembrar ao PSD/CDS/BE/PCP que foi necessário recorrer ao actual programa de apoio devido ao pacto contranatura que estabeleceram para derrubarem, com o assentimento presidencial, a alternativa proposta pelo Governo anterior.

Chegou a ocasião de nos questionarmos do que vale ser considerado bom aluno quando quem assim nos avalia é tão mau professor.
LNT
[0.324/2012]

Surdinas [ L ]

Mosca(baixinho para que ninguém nos ouça)

Pior do que se ser ignorante é ser-se sabedor de regras e não lhes conhecer as excepções. Aos ignorantes desculpa-se a ignorância, mas aos pretensiosamente sabedores é difícil perdoar a prosápia.
LNT
[0.322/2012]

Já fui feliz aqui [ MCXLII ]

Lucien Freud
Lucien Freud - Berlim/Londres
LNT
[0.321/2012]

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Orgulho

Tito de Morais

E por falar em orgulho, faz hoje exactamente dois anos que uma excelente equipa que tive a honra de coordenar levou a cabo a tarefa de ajudar a imortalizar a memória de Manuel Alfredo Tito de Morais.

O tempo passa mas não pode passar a memória dos bons que nos legaram o seu exemplo como caminho do futuro.

Tito de Morais faria hoje 102 anos.

Imagens das CCTM no Facebook.
LNT
[0.320/2012]

Orgulhosamente afogados na rebentação da praia

Mar PraiaSei que não se deve bater em mortos e geralmente não o faço, mas como leio em toda a comunicação que morremos com dignidade e que esses mortos nos enchem de orgulho, faço aqui as exéquias.

Portugal jogou melhor que Espanha. Portugal apontou mais que Espanha. Portugal concretizou menos que Espanha o que colocou a Espanha na final e Portugal no avião de regresso.

Sei que sou barbeiro e que os barbeiros sabem tanto da poda como os cientistas da bola sabem de coisas sérias. Mas, nada entendendo, sei que o orgulho deve resultar da concretização e não do falhanço.

Acabo já, sei que não se deve bater nos mortos.

Acabo a reflectir sobre o orgulho balofo há séculos iniciado em Alcácer-Quibir e que, excluindo a fase em que foram dados novos mundo ao Mundo, faz encher o peito a este povo que insiste em afogar-se orgulhosamente na rebentação da praia em vez de se esforçar para pisar a areia e continuar a viver.

A taxa de sucesso português, seja na bola, seja na política ou na economia continua a medir-se pelo esforço exigido e não pelos resultados obtidos, o que é manifestamente insatisfatório.
LNT
[0.319/2012]

Já fui feliz aqui [ MCXLI ]

Casa Nuno Álvares Pereira
Casa Nuno Álvares Pereira - Barcelos - Portugal
LNT
[0.318/2012]

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Sorte e olé

Invasão de campoHoje ao fim da tarde há que estar atentos. Com o País pendurado nas televisões para saber se Ronaldo não se vai lembrar que é a Espanha que lhe paga os bifes, ou se Ronaldo vai fazer o gosto aos castelhanos e tentar dar cabo dos català, Passos Coelho com o invisível Paulo Portas e com o mago das finanças vão estar de rédea solta para se lambuzarem no que lhes sobra do pote.

Enquanto o País se aliena a ver 11 em cuecas a correrem de um lado para o outro, arrisca-se a ser driblado.

Oxalá a Catalunha perca, oxalá os irmãos Metralha do eixo São Bento/Necessidades/Praça do Comércio não se aproveitem da alienação para demonstrar que, ao contrário do que pensa o Presidente da República, ainda há muito trilho de confisco para trilhar até ao precipício.

Como diria (lentamente) o sábio das finanças, o dia seguinte é o dia imediatamente após o dia anterior, o que na sua linguagem de trapos quer dizer que amanhã é novo dia e hoje é aquele que o antecede.

Sorte, atenção e olé! Não se deixem distraír com as invasões de campo.
LNT
[0.317/2012]

Já fui feliz aqui [ MCXL ]

Portugal/Espanha
2004 Nuno Gomes - Portugal-01/Espanha-00
LNT
[0.316/2012]

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Homilias

Caneca das CaldasNa habitual homilia dominical, o pré-candidato ao palácio de Belém, o Sr. Sousa, como um dia lhe há-de chamar o Jardim do Funchal, aconselhava ontem o Primeiro-Ministro a fazer um especial agradecimento aos trabalhadores do sector estado (pelo menos àqueles a quem foi surripiada a primeira tranche de 1/14 do vencimento anual).

Marcelo devia estar a brincar, embora tivesse posto a sua cara mais séria quando fez a sugestão. Se a matilha do “para além da troika” me viesse agradecer pelo facto de me ter roubado para poder continuar a nomear os amigos para lugares remunerados pornograficamente, (diz o Público que depois da EDP chegou agora a vez de encaixar mais uns quantos na REN) penso que iria às Caldas da Rainha encomendar um serviço que em tempos lá vi à venda.

Imagino que o próximo almoço comemorativo de mais um aniversário de acesso ao pote servido nesse conjunto de loiça fina iria provocar muitos risinhos e arrepios em grande parte da quadrilha.
LNT
[0.314/2012]

O IF e o churrasco

CosteletasO Imprensa Falsa (IF) é um Blog de leitura obrigatória e se só agora vai para a coluna da direita é porque até agora não estava lá. Nada o distingue de um jornal tipo Correio da Manhã, nem mesmo o facto de ter um “disclaimer” onde se lê: "O Imprensa Falsa é um pasquim de notícias que não se confirmam. Qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência.”

Mas até o IF comete erros. O mais recente, por ser relevante e por nos enganar com a verdade, diz que: "O Governo assou este domingo um contribuinte no espeto, para comemorar o primeiro ano do Executivo. A patuscada foi no palácio da Ajuda e reuniu o primeiro-ministro, os ministros e os secretários de Estado. "

Até aqui a-não notícia era verdadeira mas, no parágrafo seguinte, refere que foi Vítor Gaspar que procedeu à assadura sabendo-se nesta Barbearia, de fonte segura (também temos colaboradoras transitadas das secretas), que os Chef’s do pitéu (que não era um contribuinte qualquer, mas sim um trabalhador da Administração Pública – por isso o sabor foi tão apreciado) foi o próprio Passos Coelho coadjuvado por Paulo Portas que atiçou o carvão do churrasco.

Gasparalhinho limitou-se a segurar no pote do molho e a misturar as especiarias.

Fica reposta a verdade.
LNT
[0.313/2012]

Já fui feliz aqui [ MCXXXVIII ]

Camaleão
Camaleão - Ria Formosa - Algarve - Portugal
LNT
[0.312/2012]

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Surdinas [ XLIX ]

Mosca(baixinho para que ninguém nos ouça)

Se é verdade que uma relação de 10 para 1, em remates, significa superioridade absoluta de um dos contendores, também é verdade que a superioridade revelada, mas só capaz da entrada de um esférico, significa um baixíssimo grau da taxa de sucesso de quem fez esses remates.
LNT
[0.311/2012]

Sindroma JSPS

SócratesO sindroma obsessivo José Sócrates Pinto de Sousa (JSPS) é o complexo português mais relevante deste início de século.

Os jornais (incluindo os televisivos), os comentadores (da comunicação social, da política, dos Blogs e outros) sempre que não têm argumentos para defender as ideias vigentes, retornam ao sindroma JSPS para desviar as atenções das políticas miseráveis que este Governo vem a aplicar desde que, pela mão do Presidente da República, assumiu o poder.

Os resultados, que começam a ter leitura clara, apontam para o desastre consequente das políticas que sucederam a Sócrates. (desemprego, falência, empobrecimento, liquidação da classe média, diminuição do tempo médio de vida, fim da igualdade de oportunidades e baixa das receitas - que garantiam a protecção social - na razão directa do aumento da carga fiscal). Querem fazer crer que se trata de uma mera consequência das políticas anteriores e escondem que são os propósitos das políticas actuais.

Insistem que o acordo do resgate é da responsabilidade de Sócrates (como se o resgate não se devesse a uma “santa aliança” do PSD/PCP/CDS/BE, que o obrigou, por ter sido chumbada a solução negociada por Sócrates com os nossos parceiros europeus e que não obrigava às medidas de destruição económico-social que vieram a ser impostas pela Troika) ou como se as medidas “para além da Troika” não fossem o “custe-o-que-custar” que orienta o pensamento revanchista, desigual e prepotente com que a dupla Coelho/Portas está a destruir o que resta, no nosso País, do conceito social-democrata de cidadão europeu.

O sindroma obsessivo JSPS revela-se uma doença desviante produzida por quem não tem coragem de assumir que as actuais políticas de sofrimento impostas ao povo português são propositadas e deliberadas. Alimenta-se com a prescrição de empobrecimento que a “santa aliança” defende, embora por razões diferentes:
- O bloco de direita por saber que é o caminho que pretende;
- O segmento de esquerda porque sempre apostou na política do “quanto pior, melhor” para poder continuar a exercer a demagogia sem nunca assumir a responsabilidade do poder.

Escrevo isto com o à-vontade de quem nunca aplaudiu muitas das políticas seguidas pela liderança anterior do Partido Socialista e com o desprendimento de quem sempre se bateu para que houvesse melhor senso na aplicação dos recursos postos à disposição.

Escrevo-o porque sei distinguir o impacto e a responsabilidade de algumas políticas mal orientadas anteriormente daqueles que, com que o descalabro desta gestão propositadamente destrutiva, aniquilam todos os avanços sociais que se produziram em Portugal desde que deixámos de “estar orgulhosamente sós” e nos inserimos na Europa.
LNT
[0.310/2012]

Já fui feliz aqui [ MCXXXVII ]

Avião ao luar
Avião ao luar - Peniche - Portugal
LNT
[0.309/2012]

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Checa! Checa! Checa!

Miguel Cassola BondJá deixei de ler quadradinhos há uns anos (fiz mal), mas lembro-me vagamente que o barulho das lavagens escrito nos balões das legendas seria representado por “checa! checa! checa!”, ou semelhante.

Se o inútil relatório da inútil ERC sobre o útil Relvas incluísse estas palavras teria o interesse de banda desenhada e a lavagem seria mais eficaz, principalmente agora que já ninguém está interessado a não ser na tonalidade da gravata e em que a comunicação social já terá tido indicações para acabar com o folhetim do luso Bond, Miguel Cassola Bond Relvas (com a ameaça, caso não sejam cumpridas as superiores indicações, de que se irá publicar no FB a cor dos fios dental usados pelos directores de informação e o relato de todas as cambalhotas por eles já alguma vez dadas com gente da oposição).

Checa! Checa! Checa!, descritivo para lavagem, é hoje o título de quase todos os jornais que, à falta de Fátima e de Fado, abafa tudo num mar de bola e no apelo para que a cervejola encharque as goelas, o histerismo enrouque os relatadores e se façam esquecer as javardices que por aí andam.

Afinal o que nos interessa uma ERC se temos um CR7?

Checa! Checa! checa! Alienem-se, mergulhem no patrioteirismo, desfraldem as quinas, mantenham o zip das braguilhas na posição de fechado e controlem, em limites razoáveis, a ansiedade.

Viva Portugal!
Todos por onze, onze por todos, checa! checa! checa!
LNT
[0.308/2012]

Já fui feliz aqui [ MCXXXVI ]

Ingrid Bergman
Ingrid Bergman - Estolcomo - Suécia
LNT
[0.307/2012]

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Até no gamanço são desiguais

O trio gargalhada
Nota: Paulo Portas não se vê na imagem porque está escondido debaixo da alcatifa da tribuna do Governo. No entanto adivinha-se que seja ele que está a fazer cócegas nos pezinhos dos retratados.

Os reformados e os trabalhadores que têm o Estado por patrão viram hoje surripiado do seu vencimento, já anteriormente emagrecido, um catorze avos dos seus rendimentos anuais do trabalho (no caso dos segundos) e das economias forçadas (no caso dos primeiros).

Ao contrário da linguagem de trapos com que os poderosos pretendem endrominar, não se trata de um subsídio mas sim de uma parcela do vencimento anual que, em Portugal, se paga em 14 prestações. Não se trata de uma benesse dos portugueses, até porque os vencimentos anuais dos outros europeus ficam a milhas de distância (para cima) daquilo que por cá se recebe e não é o facto de nos países civilizados se pagar esse vencimento anual em 12 prestações e por cá ser liquidado em 14 que isso representa uma regalia dos trabalhadores.

A política de empobrecimento em curso passa, isso sim, por um ataque desigual à classe média que inventou o conceito de funcionário público para classificar uma vasta parte dessa mesma classe, muita dela qualificada e com grande mérito nas áreas mais evoluídas do trabalho (desde investigadores a profissionais das forças armadas, passando pelos sectores da educação, da saúde, da tecnologia, etc.), como parasita e merecedora de toda a espécie de sancionamento.

O poder conseguiu finalmente cindir essa classe média para a enfraquecer, virando profissionais das mesmas profissões uns contra os outros, bastando para o facto ter aplicado critérios diferentes na busca das soluções para todo o País, diferenciando profissionais tão ou mais capazes, entre os que trabalham no Estado ou no privado. Fez ainda pior porque foi buscar o sustento dos que lhe confiaram as suas economias forçadas (os reformados) e lhes retirou parte do usufruto dessas mesmas economias, num sinal de puro abuso de poder e da quebra prepotente do contrato que firmou com cada um deles sempre que guardou, em cada mês de trabalho, parte do seu vencimento.

Dizem-nos que é necessário um esforço nacional para colmatar o roubo e os despautérios dos impunes. Mas esse esforço nacional recai unicamente sobre alguns, retirando aos que nunca fogem às suas obrigações fiscais a parcela acrescida que mantém a outra parte da classe média.

O chamado "subsídio de férias" foi retirado de forma inconstitucional aos trabalhadores do sector Estado remetendo-os para o segmento da classe média que se pretende empobrecer em favor da outra que sustenta com o seu trabalho a classe alta para que ela continue a fugir aos impostos, a usufruir do social sem nada contribuir e a cometer os mais variados despautérios, ainda por cima com ostentação.

Os trabalhadores do sector estado deixaram já neste mês de Junho de dispor da parte do vencimento com que mantinham os filhos nas escolas, com que pagavam as casas que compraram, com que faziam face aos seguros que lhes são exigidos e com que conseguiam pagar as contribuições que cada vez mais os apertam. Os reformados deixam de ter recurso a uma parte do seu próprio amealhado que lhes permitia ter uma vida um pouco mais longa com a dignidade que a poupança forçada de uma vida de trabalho lhes devia proporcionar.

A diferenciação deixou de ser pela competência, esforço ou mérito para passar a resultar unicamente de uns terem por entidade patronal uma classe política incapaz e incompetente e outros uma classe empresarial que sempre soube beneficiar da catapultagem desses políticos para o poder.
LNT
[0.306/2012]

Um catorze avos

NegroHoje, dia 20 de Junho de 2012, data em que a maior parte dos trabalhadores do sector Estado e os reformados recebem o seu vencimento, ficará para a História como o dia da iniquidade nacional.


Hoje, investigadores, professores, médicos, juristas, enfermeiros, informáticos, administrativos, engenheiros, fiscalistas, economistas, arquitectos e muitos outros profissionais qualificados e especializados, só porque trabalham para o Estado ao contrário de todos os outros que trabalham em regime liberal ou por conta de empregadores privados, vêem-se espoliados de 1/14 do seu vencimento anual porque o actual poder entende que os sacrifícios exigidos para a reabilitação das finanças públicas que foi (e é) objecto de roubos ignóbeis e de despesismo incompetente e imoral desse mesmo poder e dos poderosos que nele se aninham devem ser suportados por uma só parcela do povo português.


Hoje, os reformados que descontaram toda a sua vida para usufruírem da reforma por si adquirida, vêem-se privados de 1/14 do pecúlio anual, num roubo descarado, injusto e prepotente.


Hoje, nós que garantimos a educação de uma Nação, que garantimos a saúde de todos, que garantimos os sistemas tecnológicos, que garantimos a equidade fiscal, que garantimos a segurança, que garantimos o que resta da justiça, que garantimos a democracia, que garantimos a Constituição, a Lei e a Ordem, passamos também a ser os que garantimos, com aquilo que nos retiraram, os conceitos e preconceitos dos que escolhemos para nos governarem e passamos também a garantir que, ao nos fazerem os bodes expiatórios da incompetência e da corrupção de quem gere este nosso Portugal, esses gestores continuarão a ser impunes de todos os crimes que cometem, incluindo os de lesa-pátria.


Hoje é um dia de luto pela iniquidade que se materializa, ao arrepio de tudo aquilo porque lutámos antes e depois de nos tornarmos livres num País e numa Europa cada vez mais desiguais, em oportunidades e em respeito pelas pessoas que os povoam.
LNT
[0.305/2012]