quarta-feira, 18 de junho de 2014

O barbeiro [ IX ]

O BarbeiroRui entra de repelão e abanca na cadeira vaga.

Nem bom dia, nem boa tarde, que o corte tinha de ser rápido e curto porque o dia era de festividade e havia horas para o encontro na sala de cinema transformada em Igreja Evangélica.

- Luís, rápido! Tenho pressa. Ando nesta fona do santinho e não descanso enquanto não o vir no trono com a caixa das esmolas cheia, a abarrotar.
Logo de seguida dispara: - "Pede lá ao Seguro para se demitir para ver se resolvemos isto com menos dano desaçoriando o pântano".

O barbeiro fez orelhas moucas e preparou-o para a função: - O meu amigo quer à máquina, à tesoura de desbaste, ou à navalha?

-Como queiras desde que me deixes uma poupinha à Ronaldo, mas despacha-te e "pede lá ao Seguro para se demitir para ver se resolvemos isto com menos dano desaçoriando o pântano" - respondeu o cliente visivelmente bem-disposto e convencido de que organizações credíveis se regem pelos mesmos parâmetros do que as associações de bairro que se formam para umas sardinhadas e se extinguem quando os santos terminam.

-Amigo Rui, como o meu caro bem sabe, não é o facto de ter um topete à Ronaldo que o faz ser um goleador. O tipo desenvolve muito trabalho para poder parecer que aquilo que faz não precisa de trabalho algum, mas como o tempo é de espuma e de imagem, farei a poupa que me pede para que pareça um Ronaldo- respondeu-lhe o Sr. Luís.

- Lá, estás tu, barbeiro. É como te digo, tenho pressa e embora saiba que quem tem pressa come cru, volto à minha - "pede lá ao Seguro para se demitir para ver se resolvemos isto com menos dano desaçoriando o pântano".

O barbeiro remata: - Rui, meu amigo. Isto está quase pronto. Falta um pouco de gel e, para fim de conversa, fica a saber que se existe um pântano é porque alguém o anda a escavar e a estagnar as águas que deviam estar agitadas e em crescendo para desassorear o pântano do cavaquistão em que nos meteram. Como é evidente, não me compete pedir a alguém que está de pleno direito, sufragado pelos seus pares e pela Nação, que se demita só porque alguém resolveu criar um mar de espumoso cheio de sombras e espectros. Aliás, nem sequer é bem essa imagem que a coisa tem porque, para quem vê de fora, a imagem é de um ninho feito com esforço e afinco por um pássaro trabalhador e de um cuco que agora, sem esforço, quer pôr lá os ovos.

Prontinho, poupa afinada, vai-te, e dá cumprimentos meus à assistência que hoje vai à homilia da capital para canonização do seu padroeiro.
LNT
[0.245/2014]
Imagem: http://www.gutenberg.org/

4 comentários:

Sousa Mendes disse...

ATÉ QUE PONTO ESTÃO DISPOSTOS A PÔR OS ESTATUTOS À FRENTE DA POLÍTICA?
18 DE JUNHO DE 2014 GUIDA 2 COMENTÁRIOS
Parece que os apoiantes de Seguro, para além de estarem impedidos, por lei, de contestar o líder, também estão impedidos de o elogiar, de se baterem pelo seu projecto político para o País (o homem tem um, não tem?), de elogiar a sua inteligência política e a sua capacidade de liderança. Sobre isso, nada. Daquele lado da barricada, só se fala de estatutos, de pareceres jurídicos e da legalidade ou ilegalidade dos temas que podem ser levados a discussão nos órgãos do partido. Quem os ouve pensa que estão num julgamento e não em campanha, tal é o zelo na defesa das leis do partido.

Mas é sobre isso que tenho algumas dúvidas. Até que ponto estão dispostos os apoiantes de Seguro a pôr os estatutos do partido à frente das questões políticas? Por exemplo, se Seguro for o candidato do PS às próximas legislativas, perder as eleições e não se demitir, continuarão os seus apoiantes a agarrar-se aos estatutos? E se ganhar por pouco? E se, em qualquer dos casos, Seguro alegar que o melhor para o PS e para o País é formar Governo com o PSD de Passos, obrigando o PS a alinhar naquilo que tem sido a pior governação de sempre, será que estes zelosos militantes socialistas vão continuar a chapar-nos com os estatutos do partido na cara? Há algum limite ou, aconteça o que acontecer, em primeiro lugar estará sempre a defesa dos estatutos?

Já que estamos perante políticos tão responsáveis, tão transparentes, tão verdadeiros e essas coisas todas que só estão acessíveis aos puros, com certeza, não se importarão de nos esclarecer.

Anónimo disse...

O ninho já estava construído quando o passarão tomou conta dele. O que o passarão voou e sobrevoou para o conseguir!Agora, o passarão não quer largá-lo para o cuco nem para qualquer outra ave.
O passarão quer lá ficar muito tempo, voando baixinho e pianinho.....

Luís Novaes Tito disse...

Sousa Mendes
isto é uma barbearia e não uma sala de explicações. de qualquer forma as questões que coloca devem ser postas a António Costa que resolveu afrontar irresponsavelmente uma direcção política eleita há um ano com moção política e programa sufragado. Se ler os documentos aprovados no último Congresso do PS ficará esclarecido.

ignatz disse...

"... homilia da capital para canonização do seu padroeiro."

uih.. uih... que mau perder, deve ser azia das audiências marteladas na alfândega do porto.