quinta-feira, 19 de junho de 2014

O ritual da beatificação

Costa LisboaAssim por contas rápidas, umas 15 ou 16 freguesias de Lisboa a 20 pessoas cada, mais uma catrefada de gente das vereações e assembleia municipal e mais um molhinho de deputados rebeldes, adjuntos, assessores e tal, e prontus, não há Tivoli que chegue e não fosse a Avenida da Liberdade, o andor não tinha conseguido sair do adro.

Espero que, como se faz nas outras orações evangélicas modernas, tivessem tido ecrãs gigantes cá fora para que os crentes pudessem ouvir as homilias proferidas a tanto cristão-novo.

Certamente foi mais povo que na procissão da Igreja de Santo António, embora menos que na entronização de Filipe VI de Espanha.

Oremos, pois, o faducho:
Cá vai a marcha, mais o meu par
Se eu não o trouxesse, quem o havia de aturar?
Não digas sim, não me digas não
Negócios de amor são sempre o que são
Já não há praça dos bailaricos
Tronos de luxo num altar de manjericos
Mas sem a praça que foi da Figueira
A gente cá vai quer queira ou não queira
LNT
[0.248/2014]

Barbering Books [ XV ]

Barbering BooksOra a verdadeira palavra do homem é a palavra escrita, pois só ella é immortal. Mas enquanto o ensino da palavra falada é o encanto das mães e filhos, o ensino da palavra escrita é o tormento de mestres e discipulos. Extranha diversidade em coisas tão irmãs!

Deus na sua providencia não o podia determinar assim. Ha-de haver meio facillimo, grato, universalmente acessivel, de espalhar essa arte, ou antes faculdade, sem a qual o homem não passa de um selvagem.

Este meio ou esse methodo encantador pelo qual as mães ensinam a falar, que é falando, ensinando-nos palavras vivas, que entreteem o espirito, e não letras e syllabas mortas, como fazem os mestres. Pois apressemo-nos tambem nós a ensinar palavras; e acharemos a mesma amenidade.
João de Deus
Cartilha maternal

LNT
[0.247/2014]

Já fui feliz aqui [ MCDXXVIII ]

Arrosada de caralhosos
Arrosada de caralhosos - Por aí - Portugal
LNT
[0.246/2014]

quarta-feira, 18 de junho de 2014

O barbeiro [ IX ]

O BarbeiroRui entra de repelão e abanca na cadeira vaga.

Nem bom dia, nem boa tarde, que o corte tinha de ser rápido e curto porque o dia era de festividade e havia horas para o encontro na sala de cinema transformada em Igreja Evangélica.

- Luís, rápido! Tenho pressa. Ando nesta fona do santinho e não descanso enquanto não o vir no trono com a caixa das esmolas cheia, a abarrotar.
Logo de seguida dispara: - "Pede lá ao Seguro para se demitir para ver se resolvemos isto com menos dano desaçoriando o pântano".

O barbeiro fez orelhas moucas e preparou-o para a função: - O meu amigo quer à máquina, à tesoura de desbaste, ou à navalha?

-Como queiras desde que me deixes uma poupinha à Ronaldo, mas despacha-te e "pede lá ao Seguro para se demitir para ver se resolvemos isto com menos dano desaçoriando o pântano" - respondeu o cliente visivelmente bem-disposto e convencido de que organizações credíveis se regem pelos mesmos parâmetros do que as associações de bairro que se formam para umas sardinhadas e se extinguem quando os santos terminam.

-Amigo Rui, como o meu caro bem sabe, não é o facto de ter um topete à Ronaldo que o faz ser um goleador. O tipo desenvolve muito trabalho para poder parecer que aquilo que faz não precisa de trabalho algum, mas como o tempo é de espuma e de imagem, farei a poupa que me pede para que pareça um Ronaldo- respondeu-lhe o Sr. Luís.

- Lá, estás tu, barbeiro. É como te digo, tenho pressa e embora saiba que quem tem pressa come cru, volto à minha - "pede lá ao Seguro para se demitir para ver se resolvemos isto com menos dano desaçoriando o pântano".

O barbeiro remata: - Rui, meu amigo. Isto está quase pronto. Falta um pouco de gel e, para fim de conversa, fica a saber que se existe um pântano é porque alguém o anda a escavar e a estagnar as águas que deviam estar agitadas e em crescendo para desassorear o pântano do cavaquistão em que nos meteram. Como é evidente, não me compete pedir a alguém que está de pleno direito, sufragado pelos seus pares e pela Nação, que se demita só porque alguém resolveu criar um mar de espumoso cheio de sombras e espectros. Aliás, nem sequer é bem essa imagem que a coisa tem porque, para quem vê de fora, a imagem é de um ninho feito com esforço e afinco por um pássaro trabalhador e de um cuco que agora, sem esforço, quer pôr lá os ovos.

Prontinho, poupa afinada, vai-te, e dá cumprimentos meus à assistência que hoje vai à homilia da capital para canonização do seu padroeiro.
LNT
[0.245/2014]
Imagem: http://www.gutenberg.org/

E depois de nós

CanasEsta nódoa negra que se está a espalhar faz antever um derrame muito mais profundo do que a mancha que se vê.

As organizações políticas são maiores do que a soma das partes que as compõem e só fazem sentido quando essas partes respeitam as regras de funcionamento em vigor e se centram nos princípios comuns que definem os pressupostos, objectivos e as metas a atingir.

Se o carisma dos líderes escolhidos para levar a bom porto os objectivos em conformidade com as metas desenhadas é um dos requisitos exigidos, porque o poder, em democracia, só é exercido por quem a ele acede, a agregação de vontades decorrente da contagem dos votos que atribui esse poder exige que todas as partes contribuam para a afirmação dos escolhidos.

Assim não foi e a hemorragia espalha-se.

O derrame tem de ser estancado antes que seja necessário uma flebotomia. Sabe-se que o sangramento enfraquece e já lá vai o tempo em que se acreditava que era através dele que se fortalecia, renovando o sangue.

Se a vitória não bastava, por curta, havia que acrescentar, nunca diminuir.

E depois de nós, como dizia a senha para a liberdade, o adeus, o ficarmos sós.
LNT
[0.244/2014]

Barbering Books [ XIV ]

Barbering BooksNormalizada a situação, com a posse do VII Governo Constitucional, presidido por Francisco Pinto Balsemão, compreendi que Balsemão e eu eramos aliados objectivos, sobretudo no que tocava ao projecto de revisão constitucional, que acabou com o Conselho da Revolução e, portanto, com a tutela militar sobre o poder civil, legitimado pelo voto popular.

A facção eanista dentro do PS (Zenha, Guterres, Sampaio, Arnaut, António Reis, Constâncio, Fernando Vale, Candal e Filipe Madeira, além, curiosamente dos meus velhos amigos Ramos da Costa e José Magalhães Godinho) entrou em ruptura comigo. Alguns por pouco tempo. Contudo, talvez por razões tácticas, não queriam destituir-me de secretário-geral. Só pretendiam esvaziar as minhas funções de poderes efectivos. Como se eu pudesse aceitar tal coisa. Tinham aliás uma maioria quase absoluta no antigo secretariado (que eu escolhera e fiz votar) e, numa proporção menor, no Grupo Parlamentar. O Congresso do PS estava marcado para os dias 8, 9 e 10 de Maio de 1981...
Mário Soares
Um político assume-se

LNT
[0.243/2014]

Já fui feliz aqui [ MCDXXVII ]

Bucho recheado
Bucho Recheado - Por aí - Portugal
LNT
[0.242/2014]

terça-feira, 17 de junho de 2014

Sem ética me confesso

BerbigãoSei que não devia pensar isto, e ainda menos escrevê-lo, porque os guardiões dos bons costumes e da solidariedade socialista, ou seja, os sublevados que ética e fraternalmente insultam violentamente, todos os dias e a todas as horas, o meu (e seu) secretário-geral e restantes dirigentes eleitos e validados por eleições nacionais, hão-de apontar-me acusações, com ar grave e sério, de divisão, subtração e desunião.

Mas vou escrever "isto", sendo que o isto, é que se andam a encher, pelo menos para criar os melhores planos fotográficos e televisivos, salas alegadamente grandes e repletas, com alguns, poucos, locais e com o séquito autárquico da capital formado pela vereação (inclui assessores e adjuntos), pela assembleia municipal do cinema Roma e pelos executivos e assembleias das freguesias alfacinhas.

Provavelmente, a vaga fundamentalista costista transportada por machibombo da capital, bastaria para "preencher" espaços alegadamente populosos, como cinemas de província com duzentos lugares. Bastaria que aos quarenta auto-transportados se associassem os deputados revoltosos perfumados com o perfume filosófico mais feroz de sempre e alguns outros incensados com cortiça.

Setembro continua longe, infelizmente longe, infelizmente distante daquilo que Portugal reclama para evitar que, tal como dizia Zorrinho, se andasse nos intervalos da bola, a discutir o que já deveria estar a fazer o futuro Primeiro-ministro em vez de se discutir o que o actual e o seu vice andam a fazer.

Sei que não devia ter escrito isto, porque a solidariedade e a fraternidade socialista me deveriam ter condicionado na desmistificação da claque insurrecta.

Espero que a comissão de conflitos do meu Partido não venha a julgar-me por ter furado os princípios de solidariedade e fraternidade com os meus camaradas alevantadiços que estão, fraternalmente, a promover a rebelião contra os poderes internos democraticamente instituídos.
LNT
[0.241/2014]

Barbering Books [ XIII ]

Barbering Books- Não está triste, pois não?
e eu - Que ideia, Orquídea - com ganas de dizer-lhe que basta a companhia dela para me sentir melhor e não digo por vergonha, por acanhamento, por ser casado, talvez, e a fidelidade, e essas lérias, escuto os brincos a tilintarem ao meu lado enquanto abro o computador e apetece-me gritar
- Estou alegre - gritar muito alto
- Estou alegre - convidá-la para uma bica a seguir ao emprego, os dois numa mesinha de canto, com o meu joelho quase a tocar o seu, com o meu joelho a tocar o seu, com os meus dois joelhos a tocarem os seus, pegar nos pacotes de açúcar
- Muito ou pouco? - sorrir ao seu sorriso
- Muito - com os meus dois joelhos apertando os dela e, se a minha mulher, já agora
- Estás a pensar em quê?
- Na Orquídea - no tom mais natural deste mundo
- Estou a pensar na Orquídea
- Que história é essa da Orquídea? - a Orquídea e eu, palma com palma, a compararmos o tamanho das mãos e a divertirmo-nos com a diferença, a Orquídea e eu, felizes, de sininhos a tilintarem e oxalá me toque, oxalá me beije, oxalá me acaricie um ombro na pensão na rua abaixo do emprego, a compararmos o tamanho das cicatrizes das apendicites, a dela pequenina, bonita e eu, a descer Orquídea abaixo perguntando num murmúrio
- Importa-se que a beije aí?
António Lobo Antunes
Visão – 2014.06.12

LNT
[0.240/2014]

Outra vez quatro a zero

SelfieCavacoNão, não foi só um jogo de futebol, como para aí leio. Foi uma multidão nas ruas que esteve especada frente aos grandes painéis espalhados por toda a parte, foram emigrados por todo o Mundo colados aos ecrãs onde se reuniram, Foi a Merkel a rir e a festejar mais uma vitória sobre os lusos. Foi o abandonar de todos os espaços onde estiveram reunidos portugueses, com o rabo entre as pernas como sempre fazem quando lhes vão ao bolso, à saúde, à educação ou às reformas.

Não, não foi só uma goleada de quatro a zero num jogo de bola. Foi mais uma porrada inaceitável e um atirar de culpas para "foi só um jogo de futebol", "o futebol é isto", "o árbitro foi ladrão" e um "correu tudo mal".

Porque tudo sempre há-de correr mal quando todas as condições se reúnem para que tudo corra mal, seja "só num jogo de futebol", seja na política nacional ou internacional, seja na irresponsabilidade com que se usa e mobiliza o sentir nacional.

Não, não foi só um jogo de futebol. Foi a falta de brio de uma equipa milionária que, tal como o poder que temos, se contenta com o pouco, poucochinho e que, tal como o maior partido da oposição, prefere dividir a reunir, sem se perceber que as equipas só serão vencedoras se as estrelas prescindirem do brilho individual.

Foram as bandeiras nacionais enroladas (que foram incitadas durante um mês para que se desfraldassem), foi a frustração, foi a perda e foi um objectivo nacional não alcançado (porque o bombardeamento da propaganda - selfies incluídas - tinha transformado o "só um jogo de futebol" numa conquista nacional).
LNT
[0.239/2014]

Já fui feliz aqui [ MCDXXVI ]

Rosbife
Rosbife - Lisboa - Portugal
LNT
[0.238/2014]

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Cortiças ensardinhadas

SardinhasA gente sai do buraco em que anda metido, molha os pés no oceano a fugir para mar e volta com a sensação de que foi ali beber um copo de ar quente. No regresso encontra tudo como o deixou.

Se a areia não fosse tão longe como a esperança, voltava para lá, entrava no azul e deixava-me boiar como um lacão até que a vaga se fizesse espuma e me pusesse, de novo, a espreguiçar ao Sol.

Santo António já se acabou. Viva o São João, o alho-porro e os martelinhos de feira!

E a procissão ainda só vai no adro.
LNT
[0.237/2014]

Barbering Books [ XII ]

Barbering BooksPromover o princípio da gestão da qualidade ”focalização no cliente”, através do envolvimento da gestão de topo em assegurar que a organização define os requisitos do cliente e garante que a organização vai ao seu encontro com vista a aumentar a satisfação deste.

Interpretação

Esta secção assenta no princípio de gestão da “focalização no cliente”, que estabelece que “as organizações dependem dos seus clientes e, consequentemente, convém que compreendam as suas necessidades, actuais e futuras, satisfaçam os seus requisitos e se esforcem por exceder as suas expectactivas”.

A gestão de topo tem a responsabilidade máxima por assegurar que a organização compreende as necessidades e expectativas dos seus clientes e os requisitos estatutários e regulamentos aplicáveis aos seus produtos. Estes devem ser usados como entradas para a organização definir requisitos internos para os seus produtos e o SGQ deve ser capaz de ir ao encontro desses requisitos de uma forma consistente.
APCER
Guia interpretativo NP EN ISO 9001:2008

LNT
[0.236/2014]

Já fui feliz aqui [ MCDXXV ]

Caralhosos da Murtosa
Caralhosos da Murtosa - Murtosa - Portugal
LNT
[0.235/2014]

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Beijos

Volto já

Três dias para saborear o mar, o sol, a neta, as filhas, os genros e a mulher. Talvez, também, figos secos, doces de amêndoa, amarguinha com limão, um polvo à lagareiro, sardinhas de Portimão, frango da Guia, e o toque tropical-soviético da Caipiroska.

Dizem-me que a água está fria, mas não faz mal. Habituado a banhos de água fria ando eu.

Até já!
Santo António vos proteja e segure.
LNT
[0.234/2014]

O barbeiro [ VIII ]

O Barbeiro(aviso: texto mais longo do que é habitual)

CC, uma ilustre e antiga cliente entra no estabelecimento, cumprimenta o barbeiro e dirige-se para a cadeira vaga.

- Bom dia Senhora Dona CC, prazer em revê-la. Gostaria de lhe oferecer um café, um chá...

- Um café, por favor.

- Aníbal, faz-me o favor de ir buscar um café para a Dona CC, sem açúcar e em meia chávena escaldada. – Aníbal, é um antigo funcionário da barbearia que se reformou, faz tempo, e a quem o Sr. Luís cedeu um dos quartos vagos de massagens para o tirar da rua, onde vivia há três anos. Ali tinha telha, água e cama, dando em troca uma ajuda ao barbeiro.

-Então, minha Senhora, o que a trás por cá? Não pode ser para madeixas porque, como sabe, o pessoal que eu tinha para esses serviços teve de ser dispensado quando a loja começou a trabalhar só para o fisco.

- É aquela coisa da herança de que o senhor fala e que me deixa com a pulga atrás da orelha por não saber quem morreu. - Respondeu CC já de xícara na mão.

- Ah! a herança, a morte, a assumpção do passado, a falta de liderança, essas coisas que um punhado de insurrectos com muita garra e exposição pública não querem calar e esbracejam para tentar convencer as pessoas de que anarquia e democracia têm o mesmo significado. Ora bem, vamos por partes:

A tal liderança, ou melhor, a sua falta, tornou-se uma realidade quando se deu a insurreição. Para mim só havia dois trajectos a seguir: Ou o líder considerava o desafio como um perigo para o caminho da vitória que estava aberto à sua organização, e marcava logo um tira-teimas para matar a rebeldia à nascença (o que entendo que deveria ter feito), ou informava o País de que o que importava era seguir em frente e retirar o poder a esta gente que nos anda a secar, e informava os conspiradores de que não era tempo para desafios e que se deveriam perfilar para o combate quando se abrisse o processo eleitoral previsto nos regulamentos. Não foi uma coisa, ou outra, que se entendeu fazer e a liderança foi posta em causa, a aguardar pelo Outono. Nunca tal se tinha visto e nunca se tinha assistido a um ataque a uma direcção sufragada internamente e confirmada em eleições nacionais, ainda mais com a violência e o desrespeito que se tem assistido.

A assumpção do passado, de um passado que levou os cidadãos deste País a entregar o poder na totalidade à direita, e que esta direcção tem voltado a recentrar na esquerda, primeiro na recuperação autárquica e agora no Parlamento Europeu, embora os rebeldes tivessem sido activistas de forças contrárias e/ou produzissem bernardas que levassem os eleitores a não saberem onde votar.
O passado do Partido é muito mais do que os últimos dez anos, mas mesmo o restrito passado dos últimos anos, o tal que conduziu a direita ao poder total - Presidente da República, Assembleia da República, Executivo, Autarquias e Parlamento Europeu – sempre foi assumido, embora, por uma razão de camaradagem, fraternidade e solidariedade, nunca tivessem sido levados à praça pública todos os desacordos que a actual direcção sempre manifestou anteriormente. Aliás desacordos depois aceites como válidos e certificados com resultados nacionais que confirmaram haver muito a corrigir.
Sempre ouvi a actual direcção defender o que foi feito de bem na saúde, na educação, nos segmentos tecnológicos e ecológicos, etc., mas como sempre me pareceu natural nunca a vi defender, embora também nunca a tenha visto recriminar (o que considero um erro), os abusos no despesismo e a falta de previsão de futuro que incompetentemente, apesar de todos os avisos que foram feitos, levaram a que a crise internacional tivesse esmagado os portugueses. Poderiam ter sido seguidos os caminhos abertos pela direcção anterior que levassem a resolver essa falta de previsão, e esses sempre os vi ser defendidos pela actual direcção, mas foram recusados por toda a direita, esquerda e Presidente da República.

A morte, minha cara CC, é uma coisa que não existe em política. O que por aí não faltam são zombies e ressuscitados de alegados mortos que agora se juntam como um grupo de alegadas almas penadas para levar o andor de Santo António. Uma pena, porque este Santo casamenteiro poderia ser o mais alto magistrado da nação onde dignificaria de novo o cargo que tão mal tem sido tratado e que, pelas suas reconhecidas capacidades, retornaria a fazer dele um pólo de equilíbrio. Assim não quis o nosso santinho convencido que, ao reunir os alegados espectros daria mais força aos vivos, e agora vai ter de gerir um saco de gatos que, quando se abrir, lhe há-de dar o mesmo tratamento que deram ou outro santo, Francisco de Assis de sua graça, assim que perceberam que a cola que lhe tinham deitado, já não pegava.

Finalmente a herança, que a conversa vai longa contra o que me é costume, por ser homem de análise silenciosa e de síntese, a herança foi aquilo que ficou para gerir. O descontentamento e a aflição dos cidadãos (expresso em eleições que deram todos os poderes, sem excepção, à direita, conforme já referi) e um grupo de críticos activos nos media e na casa da democracia. Os comentadores da cor que a direita ainda permite nas televisões, salvo uma ou outra excepção, fazem parte do reviralho e estão sempre prontos a serem mais activos contra a direcção democraticamente empossada do que contra a direita instalada nos palácios. Os tais deputados, à excepção dos 21% e de alguns outros de que se fala, nunca deixaram de se portar como "herança" não perdendo qualquer ocasião para furar a lealdade.

É isto, Senhora Dona CC.

Espero que o cafezinho lhe tenha caído bem e nunca deixe de me visitar, quando vier à capital. Já agora aproveite e acompanhe Santo António nas festas de Lisboa. As noivas, as marchas e as sardinhas estão no ponto e o resto, o que sobrar, logo se vê.
LNT
[0.233/2014]
Imagem: http://www.gutenberg.org/

Barbering Books [ XI ]

Barbering Books«Nem lei nem lei, nem paz nem guerra», recitava o juiz. E a terminar, já com soluços na voz:
«Ó Portugal, hoje és nevoeiro…
É a Hora».

Fez uma pausa, voltou-se, como sempre, para o Marquês e disse: Eu sou um sebastianista, sou um sebastianista e não tenho rei, mas é a Hora, ó meus amigos, é a Hora de rasgar o nevoeiro e de voltar a ter um rei.

E já fora de si, saltou para cima da cadeira e começou a gritar; Real, real, viva a Monarquia, viva El-Rei de Portugal.

Gonçalo Pena não se conteve. Levantou-se, fez uma vénia ao Marquês, ergeu o copo e replicou: Talvez eu seja um republicano sem República, por acaso, disse, olhando o copo, até sou um bebedor com pouco vinho, mas há uma coisa que vos garanto, se alguém me dá um viva à Monarquia, eu tenho de gritar, com vossa licença, viva a República.

E gritou mesmo. No que foi acompanhado pelo Dr. Felismino que, para grande admiração minha, até se levantou, ele que era sempre tão calado e tão discreto.

O juiz, que apesar da solenidade do cargo tinha fama de frequentemente substituir a sentença pela porrada, atirou-se a Gonçalo Pena. Que não se ficou. Só o meu Pai os conseguiu separar, não sem levar de um e de outro, o que o irritou, a ponto de dizer: Mau, se é assim, também dou.
Manuel Alegre
Alma

LNT
[0.232/2014]

Já fui feliz aqui [ MCDXXIV ]

Chaputa de cebolada
Cebolada de filetes de chaputa - Por aí (imagem e receita daqui) - Portugal
LNT
[0.231/2014]

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Nada mais vil que a tristeza dissimulada

CucosChocante, verdadeiramente chocante, é verificar que há gente partidária que se arroga da ética e do bem quando agora vê serem esgrimidas as competências do seu apoiado e que, a meia dúzia de dias de os portugueses escolherem os seus deputados ao Parlamento Europeu, não se coibiram de fazer propaganda contra as listas que deviam apoiar para reforçar o único grupo parlamentar europeu capaz de enfrentar o neo-liberalismo que grassa por essa Europa fora e faz dos “bons alunos” portugueses as suas cobaias.

Mais vil ainda foi que, quando nessa altura souberam evocar a falta de competência política para justificar tal absurdo, preferiram a política da terra queimada que lhes permitisse agora colher os cereais que já estavam semeados e só aguardavam um regadio mais esforçado.
LNT
[0.230/2014]

O barbeiro [ VII ]

O BarbeiroPedro sentou-se no trono, puxou do Ipad, e pediu ao barbeiro que lhe desse o código WiFi.

O Senhor Luís, obediente e em processo de cativação da clientela que lhe escapa por falta de recursos, acedeu ao pedido, atou o lençol ao pescoço de Pedro e desferiu-lhe as primeiras tesouradas com a tesoura de desbaste para ver se a trunfa perdia volume.

- Sôr Luís! Estou aqui no meu Facebook e olhe que o “i ónelaine” afirma que só vinte e um deputados do coiso estão com o seu Secretário-geral.

O Senhor Luís encolheu os ombros sem dar grande importância à novidade e, como o que lhe interessava era a satisfação da clientela, continuou na função com o afinco de sempre, sem dizer palavra.

- É obra, Sôr Luís. Aquela malta toda já virou o bico ao prego! – Voltou à carga o tosquiado tentando picar quem o tosquiava.

- Oh, meu amigo - retorquiu finalmente o barbeiro já de escova na mão a retirar os pelos e a caspa que tinham ficado nos ombros do casaco de Pedro – vossemecê tem cada novidade! Então não sabe que o homem teve de gramar a malta que lhe foi deixada em herança?

Tratassem esses deputados de cuidar de mim e dos meus filhos, que os metemos lá para o fazer, em vez de andarem a guerrear-se para se segurarem por mais uma volta, que eu já dava algum valor à converseta.

Bem, prontinho! São 12 euros saxa vôr, e volte sempre.
LNT
[0.229/2014]
Imagem: http://www.gutenberg.org/

Fanicos

 A notícia, à falta de outras porque as novidades rareiam nos discursos de Cavaco Silva, foi a de que o Chefe de Estado Maior General das Forças Armadas ao proferir um discurso perante as forças em parada, ao ser confrontado com a gritaria de quem não respeita a instituição de defesa nacional, teve um fanico.

O que daqui interessa retirar, independentemente da humanidade que manda respeitar os mais débeis, é se o Prof. Cavaco Silva está doente, ou se a sua personalidade não aguenta a adversidade.

No primeiro caso, estar doente ou enfraquecido, a Nação terá de olhar para a condição física do seu representante máximo e saber se foi realmente uma síncope vasovagal, temporária e circunstancial, ou se se é uma patologia mais grave que o diminua para o exercício da função.

No segundo caso, uma personalidade débil atreita a chiliques perante as adversidades, a Nação pouco mais poderá fazer do que o registo, uma vez que vivemos em democracia e Sua Excelência, a quem se deseja rápido restabelecimento e muito repouso e afastamento das preocupações do poder, exerce o mandato que lhe foi destinado pela maioria menor que se dirigiu às urnas para decidir, em sufrágio universal e secreto.

Duas notas:

1- Uma manifestação efectuada, no decurso de uma parada militar, onde é exigida a demissão do Governo é um apelo claro à insurreição armada;

2- Chamar Pinochet, como vi por aí, ao General CEMFA, por ele se ter dirigido aos manifestantes pedindo respeito pelas Forças Armadas do seu País é uma alarvidade que não tem nome num regime democrático.
LNT
[0.228/2014]

Barbering Books [ X ]

Barbering Books- O melhor é virem para a sala – disse a mulher.

Aí estavam três homens e cinco mulheres sentados. Não era preciso ser feiticeiro para adivinhar de que casa se tratava. Sara fez esforço para calar um gesto de recuo. Preconceitos pequeno-burgueses, são mulheres como as outras. E ajudaram-nos. Sorriu para a que lhes tinha aberto a porta, de meia idade e com problemas nos dentes.
- Obrigada.

- Se os chuis aparecerem, metam-se num quarto. Sem cerimónias. A esta hora estão todos vazios, o negócio começa mais tarde. Estes senhores também fugiram da manifestação.

Os homens tinham ficado encabulados ao verem entrar Sara, que decididamente não tinha estilo de puta. Mas agora riram todos, solidários. Um deles, o mais velho e com vestuário de operário, disse:
- Esta casa eu não conhecia. Mas como foram tão porreiras, vou passar a frequentá-la. Se a minha patroa deixar…

Os outros riram. A mulher que lhes tinha aberto a porta sentou-se ao lado dele. Segurou-lhe a mão.
- Tens de pedir autorização à tua patroa, queridinho?
- Ela é que guarda o dinheiro. E é muito semítica…
Pepetela
A geração da utopia

LNT
[0.227/2014]

Já fui feliz aqui [ MCDXXIII ]

Escabeche de enguias
Enguias de escabeche - Por aí - Portugal
LNT
[0.226/2014]

terça-feira, 10 de junho de 2014

Barbering Books [ IX ]

Barbering Books
Ao entrar em casa da minha irmã, vejo o Simão sentado, à mesa da cozinha, a fazer os trabalhos de casa. Pergunto:

- Então, como é que vai essa vida?

E, ele, desanimado:

- A vida vai bem. O que dá cabo de mim são estes trabalhos de casa!
Sofia Bragança Buchholz
Simão o fantástico

LNT
[0.225/2014]

Já fui feliz aqui [ MCDXXII ]

Iscas com elas
Iscas com elas - Por aí - Portugal
LNT
[0.224/2014]