quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Botão Barbearia[0.873/2008]
Sociedade civilMata-moscas

Entre as muitas cretinices que são adoptadas no liguajar em que se tornou a oralidade pública conta-se a expressão "sociedade civil". Com isto (com esta expressão) pretende-se referir uma sociedade de cidadãos de onde se exclui, não a instituição militar, o que seria correcto, mas os outros cidadãos e organizações que exercem política.

Percebe-se a intenção e reprova-se, mesmo quando ela é utilizada como "fogo amigo" porque excluir a política da cidadania, ou inclui-la num grupo à parte da sociedade (instituição) não militar, é atentar contra o conceito de democracia, por defeito inclusivo.

Só à sociedade militar não compete a política, bastando-lhe a defesa da Constituição, do regime nela contemplada e dos cidadãos por ela abrangidos.

Distinguir da sociedade civil o que à política concerne é mais uma expressão do tipo "vale o que vale" onde o vazio de conceito e ideia contidos é transportado para a opinião pública e para o discurso público, incluindo o político, sem produzir qualquer acrescento benéfico.
LNT

4 comentários:

Anónimo disse...

Concordo que há uma utilização ignorante da expressão "sociedade civil". Mas não concordo com qualquer contraposição com referências militares. Porque a expressâo tem uma longa história, (não isenta de diferentes acepções). Autores tão diversos como Hegel, Marx,Tocqville,etc. usaram-na . Ela é mesmo importante para a teoria marxiana do Estado.
Pessoalmente evito usá-la, justamente por causa da diversidade de significados que comporta. Mesmo nos meios cultos existem pelo menos quatro correntes principais. Quando tenho de a usar, utilizo-a segundo Gramsci, que me parece conferir-lhe uma superioridade de leitura. Mas não esqueço Habermas assim como os outros autores que já referi.
Desculpe este comentário tão longo, mas custa-me ver maltratada uma noção que mereceu a atenção de tantos autores (só citei alguns) tão ilustres.
J.-C. Ferreira de Almeida
(Transdisciplinar)

Luís Novaes Tito disse...

Caro JC Ferreira de Almeida

Claro que a comparação com a sociedade militar (será que isto existe?) se trata de uma provocação. Mas não de uma provocação qualquer porque basta ouvir (e ler) o uso da expressão nos contextos em que todos os dias se ouvem para entender o vazio da mensagem.

De qualquer forma o conceito não me agrada. Entendo-o em ditadura, onde o poder político subjuga, recuso em democracia onde a política faz parte da cidadania.

O conceito de exclusão da política (dos políticos organizados) da "sociedade civil" resulta naquilo que normalmente também se expressa pelo "divórcio da política do mundo real" e como digo no texto, não produz qualquer acrescento benéfico.

Abraço

... disse...

interessante visão

Anónimo disse...

concordo genericamente com LNT, acrescento apenas que para além da 'sociedade militar', também não devemos esquecer a 'sociedade religiosa' que têm fortes condicionantes ou critérios éticos de (auto-)exclusão da 'sociedade geral', a qual deve ser 'sociedade política', independentemente de ser 'sociedade com fins lucrativos' ou 'sociedade sem fins lucrativos'.
critérios há muitos... mas concordo: estou farto de apelos/referências descabidas à 'sociedade civil'(?)!!

Herculano