Há uns anos, bastantes, era aluno piloto-aviador e, ao pôr um avião em marcha na placa da Base Aérea nº 7, em São Jacinto, o motor incendiou-se. A
canopy mantinha-se aberta e o bombeiro estava a postos, conforme determinavam os procedimentos. Quando olhei para o lado esquerdo do
taxiway já lá estava o instrutor que tinha saltado para o chão e o bombeiro tentava accionar um extintor fora de prazo e com a neve carbónica avariada.
Que nervos, ainda para mais o avião tinha o depósito cheio de combustível e estava ladeado por outros T6 abastecidos.
Preocupado, embrulhado nos cintos de segurança e na tralha do pára-quedas entendi cumprir todos os procedimentos de emergência que tinha decorado: - corte de combustível, corte de magnetos, desligar de baterias, etc., – após o que iria fazer companhia ao meu instrutor, caso o incêndio persistisse.
O fogo extinguiu-se por si. O avião não ardeu, as outras aeronaves não se incendiaram, não tive problemas físicos e saímos para a missão, pouco depois, noutro avião que entretanto nos foi atribuído.
Lengalenga, esta estória, que me veio à memória no fim de ver
a entrevista que Manuela Ferreira Leite concedeu a Mário Crespo. Tal como ao meu instrutor de há uns anos, ouvi-lhe a resposta de que "
se perdesse, perdia", e que, nem sequer teria de dar explicações ao seu Partido, porque outras também as não dariam no seu lugar. Verifiquei que ela se pôs em segurança no
taxiway, a ver o avião arder e a observar expectante e sem acção o bombeiro a puxar a alavanca do extintor que não apaga o fogo. Neste caso percebe-se que o instruendo continua aos comandos mas, como não tem os procedimentos decorados, o incêndio vai progredir, o avião explodirá com o aluno lá dentro e possivelmente a explosão vai contaminar os aviões que o ladeiam.
Poderá safar-se no "
se perder, perdi", mas dificilmente lhe será entregue nova missão de instrução.
LNT[0.348/2009] Ler outras conclusões desta estória: -> Eleições 2009/ o Público ≡ LNT - Estórias da História