quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Botão Barbearia[0.742/2008]
Artes de manipulaçãoAna Sara de Brito

Aviso inicial:
Sou amigo de Ana Sara de Brito e tenho por ela grande consideração pessoal e política.

Recebo por mão amiga um texto de Inês Pedrosa que transcrevo mais abaixo por não o encontrar publicado em lado algum e leio um artigo do o Público que algum cobarde deixou anonimamente ficar em link numa caixa de comentários deste Blog.

Sobre o assunto tenho pouco a dizer porque o muito que poderia escrever seria sempre interpretado como defesa de uma amiga, mas há constatações que não poderei deixar de registar:

1.– A casa onde Ana Sara viveu até 2007 foi-lhe arrendada em 1987 (21 anos).
2.– As dificuldades de uma enfermeira há 21 anos não se podem meter no mesmo saco com uma reforma usufruída hoje. O Público ao informar do valor da reforma de hoje e ao não dizer quanto ganhava uma enfermeira à data em que a casa lhe foi arrendada comete um grosseiro acto de manipulação.
3.– A renda da casa da Rua do Salitre foi, segundo as declarações de Ana Sara, objecto das actualizações anuais previstas na lei do arrendamento. Tratava-se de um contrato legal de arrendamento igual a qualquer outro e sujeito às mesmas regras e relações que existem entre inclino e senhorio.
4.– A casa não fazia parte de um lote de habitação social, o que quer dizer que fazia parte do mercado de arrendamento do parque habitacional de Lisboa.

Ainda assim Ana Sara de Brito, dando mostras da integridade que sempre lhe conheci, entendeu entregar as chaves ao senhorio quando foi eleita vereadora no ano passado. Não tinha que o fazer. Renunciou a um contrato que sempre cumpriu e que nada tinha de diferente de todos os outros contratos de arrendamento de Lisboa realizados há vinte e um anos. Fê-lo porque Ana Sara entendeu, uma vez mais na vida, manter a sua vida pública acima de qualquer suspeita.

Sem honra nem vergonha
Como sobreviverão os políticos honrados aos ataques insidiosos dos corruptos?
A tentativa de assassinato de carácter de que foi alvo Ana Sara Brito é um exemplo-limite do lamaçal em que se tem vindo a tornar a política portuguesa. A actual vereadora da Acção Social e Habitação da Câmara Municipal de Lisboa é uma mulher a quem tanto os amigos como os adversários políticos reconhecem, desde sempre – e este sempre é longo, porque Ana Sara tem prestado serviço à população de Lisboa desde o tempo em que era presidente Nuno Krus Abecassis – duas qualidades absolutas: eficiência e honestidade. A reunião dessas duas qualidades criou-lhe, aliás, inimizades mais ou menos surdas, dentro do seu próprio partido: leal aos seus princípios e valores, Ana Sara nunca temeu ir contra as vozes dominantes, e contrapor o seu pensamento ao dos chefes, dentro do Partido que elegeu como seu (e que nunca abandonou).
Assim, por exemplo, ergueu a sua voz contra o então Primeiro-Ministro António Guterres, quando este impôs um referendo, depois da lei da interrupção da gravidez ter sido aprovada na Assembleia da República. Nas últimas presidenciais, apoiou a candidatura de Manuel Alegre, cujo sucesso, é justo que se recorde, muito ficou a dever ao seu trabalho, foi ela a coordenadora nacional da campanha. Nunca trocou os seus valores por benesses, nunca serviu a dois senhores em simultâneo, e nunca entrou em negociatas de espécie alguma, antes as denunciou e denuncia, em sede própria. O cargo que hoje ocupa na CML advém do reconhecimento (tardio, digo eu) dos seus múltiplos talentos e virtudes, às quais não posso deixar de acrescentar a da isenção, por parte dos líderes do seu partido.
Assumiu este cargo numa época difícil, e com sacrifício pessoal, quando podia estar tranquilamente a gozar a sua reforma, depois de quarenta e seis anos de trabalho, não só a favor da cidade (como autarca), como a favor da população portuguesa (exerceu durante anos a profissão de enfermeira, na área da saúde mental, e trabalhou com Maria de Belém no Ministério da Saúde). Não tinha falta de ocupação, já que faz parte de várias associações de defesa de direitos cívicos, e não assume compromissos de boca. Num país onde pululam os apoiantes teóricos de causas – aqueles que dizem: «faz, que eu assino» – Ana Sara sobressai pela dedicação, pelo empenhamento e pela coragem.
Mas, em Portugal, a honestidade, a isenção e a frontalidade pagam-se caro. Porque incomodam muita gente. Incomodam aqueles que estão habituados a uma vida de negociatas turvas, trocas de favores e abusos de poder. É natural que os incomode, porque Ana Sara não só não colabora com esses esquemas, como não lhes fecha os olhos. Ao assumir funções, entregou à Polícia Judiciária todos os documentos controversos que encontrou.
Como António Costa explicou na conferência de imprensa que realizou, ao lado de Ana Sara Brito, na passada segunda-feira, a Polícia Judiciária tem estado a trabalhar nas instalações da CML, para escrutinar tudo, com total apoio dos serviços camarários. Assim, no preciso momento em que os processos menos claros das anteriores gestões camarárias começam a ser levantados pela Justiça, e os nomes dos arguidos, reais ou potenciais, começam a saltar para os jornais, surge uma campanha de ataque, nebulosa e nevoenta, misturando alhos com bugalhos e envolvendo várias figuras da actual gestão municipal – entre as quais Ana Sara Brito, acusada de, há vinte e um anos, ter abarbatado para si uma casa da Câmara. A acusação, como ela mesma explicou, na passada segunda-feira, é falsa. O aparecimento desta campanha contra a Vereadora da Habitação coincide também com o anúncio, feito por ela, de um plano de realojamento com novas regras – justas e estritas, sem qualquer margem discricionária. São coincidências a mais.
Quem manipulou alguma comunicação social contra Ana Sara Brito? A quem aproveitam estas mistificações? Aos que têm contas a prestar ao erário público dos portugueses. A técnica é antiga: já o burlão Alves dos Reis, quando se começou a sentir apertado, desatou a acusar a administração do Banco de Portugal. Dir-se-á que a verdade vem sempre à tona – mas todos sabemos que nem sempre é assim. Alguma vez saberemos a verdade sobre as décadas e décadas de abusos sobre menores na Casa Pia?
Para mal dos que gostariam de ver em Lisboa uma Vereadora maleável, fraca, corruptível, Ana Sara não cede nem desanima. Mas quantas pessoas de bem não desistem, logo à partida, da política, por temerem os golpes baixos, as acusações sem fundamento ou a devassa da sua vida particular? Vamos repetindo, com desalento, que a política se tem vindo a tornar um território de mediocridade crescente. Se continuarmos a deixar que os medíocres procurem arrastar para a lama que é o seu habitat natural o nome e a imagem das pessoas honradas como Ana Sara Brito, acabaremos por ficar nas mãos da ditadura da mediocridade. Os medíocres formam máfias transversais ao espectro partidário, organizam-se para assaltar a riqueza nacional (ou o que dela resta, depois de séculos de corrupção e mediocridade). Mas não podem vencer os que trabalham honradamente a favor da coisa pública sob pena de perdermos, em definitivo, a honra e a liberdade.
Inês Pedrosa
LNT

Rastos:
USB Link-> Câmara Municipal de Lisboa ≡ Vereadora Ana Sara Brito prestou esclarecimentos sobre notícias vindas a público
-> Público.pt ≡ Vereadora que pagava 146 euros de renda à Câmara de Lisboa recebe reforma de 3350

-> Corta-fitas ≡ Teresa Ribeiro - Ooops!
-> Mátria Minha ≡ Eugénia de Vasconcellos - Carácter
-> Mar Salgado ≡ Filipe Nunes Vicente - Bigorrilha, Bigorrilho, Bigorrupto e Bigorreco
-> Suspeitix ≡ Luís Coelho - Baixa política

19 comentários:

CPrice disse...

Obrigada Caro LNT pelo esclarecimento.
Você chama-lhe manipulação .. eu tenho outro nome para este tipo de atitudes vindas de quem "jura" informar imparcialmente e com carácter, procurando sempre a verdade.
ou será que já nem com isso se comprometem?

Abraço

odete pinto disse...

Absolutamente brilhante e eloquente este artigo de Inês Pedrosa.

Quem já viveu situações idênticas sabe bem, porque sente, isto"

"Num país onde pululam os apoiantes teóricos de causas – aqueles que dizem: «faz, que eu assino» – Ana Sara sobressai pela dedicação, pelo empenhamento e pela coragem.
Mas, em Portugal, a honestidade, a isenção e a frontalidade pagam-se caro."
.

aviador disse...

Não ponho em causa todas as caracteristicas que a senhora tem evidenciado ao longo de uma longa carreira politica.

Por isso mesmo acho que o aluguer da casa à camâra em condições muito vantajosas não é tolerável.

Quantas pessoas não vivem muito pior e não têm estas "benesses"?

Luís Novaes Tito disse...

O aviador há-de explicar quais são as condições muito vantajosas de que está a falar.

Lembre-se que estamos a falar de um arrendamento com 21 anos e de uma casa com 2 assoalhadas.

Tente saber qual o preço médio para arrendamentos semelhantes.

Quanto às paessoas que não têm essas benesses, lembre-se que não estamos a falar de rendas sociais mas só de arrendamento. Por acaso o senhorio é a Câmara Municipal mas em nada é diferente de qualquer outro senhorio. Se a casa lhe tivesse sido arrendada por qualquer outro senhorio qual era a diferença?

aviador disse...

Quem exerce funções como ASB não basta ser séria ( e eu não ponho isso em dúvida) tem também de parecê-lo.

E o Luis pode crer quanto eu lamento essa situação!

Só que devemos ser mais exigentes para com os nossos amigos e correligionários.

Peço-lhe desculpa mas aquela de a Câmara funcionar como "qualquer outro senhorio" parece-me um pouco demagógica.
É crer tapar o sol com uma peneira.
É quase como a justificação do Ruben Carvalho : "Não há nenhuma irregularidade porque não há regularidade!"

maloud disse...

Também vou deixar um link
http://marsalgado.blogspot.com/2008/09/bigorrilha-bigorrilho-bigorrupto-e.html

Luís Novaes Tito disse...

Vou acrescentar o link, Maloud.

Aviador,
Quando estamos a falar de património não caracterizado como habitação social, a CML é um senhorio igual a qualquer outro. Pode ser um privado, um banco, uma seguradora, a Santa Casa, etc.

É imprescindível saber distinguir o sector da habitação social do mercado de arrendamento. Você deve saber que muito do património da CML não teve custos para os contribuintes pois reverteu também de doações, etc. e nunca se destinou a habitação social e não lhe está afecto.

A casa de Ana Sara não lhe foi concedida, conforme se lê por aí.
Foi-lhe arrendada o que é diferente e a renda que era paga era receita da CML, como qualquer arrendamento é receita do senhorio.

Não provinha de verbas orçamentadas para habitação social e não se destinava a habitação social.

Quando muito, a única coisa que aqui poderá estar em causa é o direito de preferência, nada mais.

Anónimo disse...

É óbvio que a CML não é um senhorio como qualquer outro porque tem que respeitar os principios que devem nortear a Administração Pública, nomeadamente o principio da isenção e da imparcialidade. Por isso é que foram criados os concursos públicos e outros procedimentos.
É também óbvio que houve um conjunto de municipes que tiveram acesso a um arrendamento em condições que muitos outros potenciais interessados não souberam ou não poderam candidatar-se em igualdade de circunstancias.
Para todos os efeitos a concessão deste tipo de bens terá que se fazer necessariamente por um concurso público ou por sorteio com candidaturas devidamente abertas e publicitadas.

Anónimo disse...

Patéticas desculpas... enfermeira à 21 anos, seria um avida dificil... concerteza que exixtiriam pessoas MAIS necessitadas que não usufruiram da mesma casa porque não meteram uma cunha.

Anónimo disse...

Mas enfim, vou calar-me e criticar somente o BB. Ou será que também era um jovem necessitado na altura em que meteu a cunha para a sua casa? parece que lhe chovia na cas aantiga....

cegonhix disse...

Não percebo qual é a dúvida.

Trata-se de património não afecto a actividades públicas ou sociais e de contratos de arrendamento com preço definido pelos valores de mercado à época.

Sobre os critérios para a escolha de inquilinos, concerteza que não é a arrendatária que tem que observar a legalidada (que existiu neste caso).

De qualquer forma, não sou contra que exista uma bolsa de património afecto a outras áreas que não sociais (cultura, institucional, inovação, criatividade, etc). Claro que, com regulamentos e regras claras mas, há 21 anos eram outros tempos (mesmo relativamente à valoração que o consenso social dá às coisas e aos actos).

Luís Novaes Tito disse...

É evidente que o mercado de arrendamento habitacional segue as regras do mercado, isto é, aluga pelo melhor preço o que tem para alugar. Isto independentemente do senhorio.

Este mercado não está em pé de igualdade com o mercado de habitação social, nem se rege pelas regras da habitação social. A manipulação reside na confusão dessas duas realidades.

O José Freixo insiste na palavra “usufruir” o que é outra forma de manipulação da informação. A casa em questão não foi atribuída, porque não é habitação social. Foi arrendada no mercado.

Há muita gente em Lisboa que tem casas arrendadas com preços muito mais baixos e com superfícies muito maiores. Casas cujos senhorios são a CML, mas também são a Segurança Social, outros departamentos do Estado, a Santa Casa, os Bancos, as Seguradoras, os privados, etc.

Os senhorios (qualquer senhorio no arrendamento livre) têm o direito e o dever de seleccionar os seus inclinos e exigir-lhes determinadas garantias. É a Lei do mercado.

Não há aqui coitadinhos, nem ninguém o quer ser.

Volto à minha:

A única coisa que poderá estar aqui em causa é a publicitação e a preferência pelo aluguer (o que já não é pouco). Todo o resto e as palavras como atribuir, usufruir, necessitados, pobres, desfavorecidos, etc. não se aplicam ao mercado de arrendamento fora da habitação social.

Quem quiser entender, entende, quem não o quiser entender, paciência.

cegonhix disse...

Sábado - A veradora Ana Sara Brito deveria demitir-se na sequência do escândalo de atribuição de casas?
Paula Teixeira da Cruz - A senhora vereadora deu-me uma explicação pessoal e não acho que ela deva sair.

Revista Sábado:
Esclarecimentos do desaparecido Krus Abecassis em 1989: «A senhora vereadora vivia numa casa de porteira e teve a dignidade de nunca me falar nisso. Fiquei a sabê-lo através de funcionários. Peguei num T1 e dei-lho.»

Rui Vasco Neto disse...

luís,
fica-te bem, este post.
é digno.
e é tudo, sobre este assunto que fede, por todos os lados.

abraço de inveja
(não é muito provável que eu tenha amigos assim)

Anónimo disse...

Gostei muito da "explicação" sobre senhorios escolherem os inquilinos... Estranho é este "senhorio" por as casas a arrendar directamente para uma pessoa. De qualquer maneira a explicação é brilhante.

Gostaria tambem de saber o que é que a conmpetecia de alguem no trabalho que faz tem a ver com o facto de ter uma casa de "favor" da camara?

Gosto muito tambem do fadinho da "dignidade Vs. Inveja"

BB + castor com tecto sempre!!

Rui Vasco Neto disse...

josé freixo,
quer-me parecer que o seu mal é o de todos os que têm um alter ego: às tantas não se sabe quem fala, se é o zé freixo se é o donaldim.

Anónimo disse...

A Ana Sara é filha, os outros são enteados.

Luís Novaes Tito disse...

Agradeço ao Rui Vasco as palavras lá mais acima.

Ao José Freixo já nada mais tenho a dizer.

Anónimo disse...

Bom, sendo assim despeço-me com amizade e com um fraterno abraço democrático...

P.S. (ou PSD...): E ainda um abraço revolucionario ao BB que depois de tudo ainda ficou com a casa :)