quarta-feira, 13 de julho de 2011

Malhar

Miguel Telles da GamaTirando aquilo que se pôde observar em relação à personalidade dos candidatos, pouco restou do debate que ontem se fez na SICn (cabo) entre António José Seguro e Francisco Assis.

Constrangimento
Os candidatos estavam no espaço público. Mesmo no plano pessoal estavam condicionados. (note-se que a escolha em curso não é só relativa ao líder mas também aos delegados ao Congresso – apoiados nas respectivas moções globais - onde serão determinados os objectivos do Partido Socialista para os dois próximos anos)
Para não falarem do passado, escudaram-se no futuro dando a entender partir-se do nível zero. Desperdiçaram a oportunidade da aprendizagem resultante da análise dos aspectos positivos e negativos do anterior exercício do poder. Recusaram a oportunidade de avançar com base numa metodologia de melhoria contínua.

Diferenciação
António José Seguro apresentou-se como coordenador de uma equipa aberta para a construção de soluções. Primeiro valorizando a sua própria equipa e chamando à responsabilidade e ao trabalho os elementos que a compõem (todos os militantes do PS) e, a partir dos conteúdos obtidos, colocá-los em discussão pública.
Francisco de Assis apresentou-se a liderar soluções aptas a serem discutidas publicamente colocando em pé de igualdade a equipa (o universo de militantes) e os eleitores em geral.
Digamos que, enquanto que para Seguro é importante que o Partido analise, estude e proponha soluções seguindo a lógica de organização política para depois as colocar em discussão pública e lhes acrescentar valor antes de as fazer sufragar, para Assis chega construir soluções (dele ou dele e de um grupo de elite) e depois abri-las à discussão pública numa amálgama entre os que têm deveres e direitos (os militantes) e os que só têm direitos (os não militantes).

Outro aspecto diferenciador neste debate foi o que se relaciou com a personalidade e com a eficácia. Sempre que foram colocadas questões concretas, Seguro dizia que se fosse o actual Primeiro-Ministro estaria a fazer isto ou aquilo (p.e. a trabalhar com os outros lideres europeus em busca de soluções para os problemas reais). Assis respondeu invariavelmente com retórica, nunca se colocou no papel de Primeiro-Ministro, nunca conseguiu descolar-se do ideólogo. Chamado à pedra para explicar como pretende implementar as suas ideias de abertura, enrolou, baralhou-se e acabou com a apresentação de soluções burocráticas. (a "declaração de honra" é exemplo).

Conclusão
Do observado, que foi muito pouco interessante para a generalidade dos portugueses que estavam na expectativa de encontrarem algo que os empolgasse, concluo que Seguro tinha razão em preferir aprofundar o debate interno (a que o Assis apelida de espírito de seita) e que este debate público televisionado acabou por ser uma acção de desmobilização. Oxalá me engane e os militantes, perante o que observaram, reajam com o seu voto no final do mês em curso.

Nota: Comentário que deixei no Blog Banco Corrido, do Paulo Pedroso, no Post em que ele fez o levantamento do que se passou nos Blogs e Redes Sociais à volta deste debate. Este levantamento é da maior importância para o entendimento do que é um Partido aberto e em rede.
Se este teu trabalho (que trabalhão!) não servir para mais nada, pelo menos deixa uma clara referência à importância que as tecnologias da informação e da comunicação, nas quais se enquadram as redes sociais, têm no mundo de hoje.
Esta constatação assume importância de relevo quando se discutem as novas formas de fazer política, de abertura dos Partidos e de impacto das vozes “anónimas” (anónimas, no sentido de desconhecidas e não do próprio anonimato) tanto junto de uma comunidade em expansão (tecnologia e comunicação) como em conteúdo aproveitável na comunicação social (divulgação e informação).
O tempo já não está limitado aos segundos de tribuna que são concedidos nos plenários e congressos e as ideias, críticas e soluções podem fluir e ficam disponíveis para trabalho.
Muito útil. Vou fazer-lhe referência (e com isto complementar a característica viral de rede)
LNT
[0.274/2011]

1 comentário:

Anónimo disse...

----.PS : (re) Fundidos... até ao Fundo !! .


Admito-o... sou partidariamente masoquista !

Sou um dos 8.000 que ainda paga quotas (mínima: 12€ por ano)...
porque considero que só fazendo parte (com direito a voto...) é que posso tentar mudar o partido...
e porque tenho cá uma fezada (...) que quando o nº de 'militantes'/pagantes' chegar aos 2.000 (menos do que os 'bloquistas esquerdistas'),
então conseguirei juntar um grupo de Socialistas/SocialDemocratas e fazer uma revolução interna (ou ''golpe de estado mental e aparelhístico'')... isto é, fazer a tal refundação que M.Soares também advoga.

Mas, acreditem, estes 2 candidatos (e a maioria da sua 'entourage') não me convencem... nem as suas práticas, nem os 'debates' nulos na Tv e 'zerados' a nível interno..., nem os seus programóides, ... nem os apelos patéticos... nem os acríticos aparelhados 'candidatos a delegados' (de qualquer um deles) e que há um mês atrás apoiavam incondicionalmente/credulamente o anterior SG.

Se não aparecer outro candidato... vou à secção e voto NULO.

Mas tenho remorsos ...
já não consigo ler e reciclar toda a m... que me enviam, com que enchem a caixa de correio, do telemóvel e do e-mail.

PS: não sei por quanto tempo aguentarei...
talvez até a 'boyada' do PSD/CDS e os arautos/defensores dos 'mercados' liberalizados e do 'Estado mínimo' (privatizador do património/ lucros Públicos)... me surpreenderem positivamente.

------De ..Refundar o Partido e a Política..

(-de Zé T. a 5 de Julho de 2011)
O comentador não está a ver bem...
Vamos esclarecer, outra vez:

1- Assis e Seguro vão para eleições (seguindo o 'manual' existente) sem existir um Congresso prévio de reflexão geral ... e mesmo o debate entre candidatos só agora é que parece vir a ter lugar...

2- Assis compromete-se pelas Primárias (abertas a não militantes, ...) e Seguro referiu qualquer coisita pouco explícita sobre Primárias.

3- Aqui, no Luminária e em outros locais(OGrandeZoo, ...), muitos militantes expressaram ser a favor de Primárias (para todas as candidaturas), mas ... creio que a maioria não aceita/não gosta nada
(de fazer o papel de 'palhaços' ou moços de recado, porta-bandeiras ou batedores de palmas ...):

3.a-. que não-militantes/ não-filiados (''simpatizantes'' a registar...) tenham os mesmos direitos (de voto...) que os militantes.

3.b-. que se vá para eleições sem se fazer o prévio debate, reflexão e responsabilização pela situação em que estamos
. (as coisas não acontecem por acaso, ... e não reflectir não responsabilizar é o mesmo que esconder a cabeça na areia , por o lixo debaixo do tapete e voltar a cometer os mesmos erros ... com os mesmos agentes/personagens ...).

3.c-. que as práticas (e regulamentos...e ...) não sejam alteradas, depois de auscultados/referendados pelos militantes.

4.a- A existência de candidaturas /apoios para eleições internas é uma opção legítima e pró-activa, em nada contrária (mas antes a par) às críticas e propostas feitas ao que vai sucedendo no Partido.

4.b- A outra posição também existente no partido é a de auto-afastamento e abstenção de concorrer/apoiar/ participar... deixar de pagar quotas, deixar de estar filiado... e, ao mesmo tempo, continuar as críticas (pertinentes muitas vezes ... com propostas, menos vezes)
e esperar que as coisas mudem ... por via do trabalho/militância de outros ou por obra e graça do espírito santo...

5.a- Quem quiser continuar a ser socialista/social-democrata e cidadão de pleno direito creio que tem o dever de participar (tentar mudar) tanto no Partido (este ou outro) como na Polis.

5.b- Quem quiser ser apenas ''cidadão-mandado'' fique sentado, queixe-se enquanto lhe deixarem ... e espere que lhe tragam as sopas... se ...

Zé T.