segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Aos figos

Cavaco aos figosCinquenta dias depois de Cavaco ter percebido que afinal nem todos os cenários que traçou se podiam concretizar, o Presidente eleito pela menor maioria de sempre exigiu seis esclarecimentos que nada esclareçam e que ele nunca poderá atestar porque já não estará na Presidência para o fazer.

Se Costa lhe tivesse escrito uma carta de amor, ridícula como são todas, ficaria Sua Excelência tão ridiculamente esclarecido como já é ridículo o papel que anda a fazer.

Mas há aqui uma artimanha que parece estar a passar ao lado de todos os que nunca aprenderam a apanhar figos no Algarve.

Cavaco quer deixar uma papel assinado por Costa que permita ao próximo Presidente da República dissolver a Assembleia da República, no caso de se conseguir suceder por quem ele entende que o sucederá.

O Presidente que no seu discurso de vitória fez saber que só seria presidente de quem o apoiou, pretende agora deixar um testamento político que permita ao seu sucessor fazer aquilo que ele próprio não fez (por sua vontade ao deixar que as legislativas só se realizassem quando já não estivesse no pleno poder das suas competências).

Um dia há-de dizer, como ele sempre gosta de fazer, que bem avisou. Uma prática que usou em todos os tempos em que preferiu “avisar” do que fazer.
LNT
#BarbeariaSrLuis
[0.296/2015]

domingo, 15 de novembro de 2015

La Palice

 Sim, é verdade que sentimos mais como nosso o terrorismo em Paris do que em Beirute. Sim, é verdade, que ficamos mais em choque com o terrorismo na Europa ou na América do norte do que com o terrorismo na Etiópia.

Não, não é verdade, que nos seja indiferente o terrorismo em Beirute ou na Etiópia. Não, não é verdade, que esse terrorismo seja para nós menos terrorismo por o ser em Países pobres ou longínquos e nem sequer é verdade que esse terrorismo nos pareça menos mau por ser feito por nacionais ou amigos desses próprios Países.

E isto é tão verdade como termos um amigo ou familiar em risco e conseguirmos distinguir essa dor da que nos provoca o risco de alguém que não conhecemos. É tão verdade como passarmos por uma capela mortuária a caminho de outra onde está alguém que estimámos e não sentirmos igual dor por um morto ou pelo outro.

No entanto terrorismo é sempre cobardia, ódio, intolerância, fanatismo e desumanidade. Não vale a pena tentar amaciar-lhe esse rancor nem é possível pactuar com quem o tenta justificar.
LNT
#BarbeariaSrLuis
[0.293/2015]

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Da ignorância

CoelhoNada tenho contra Passos e Portas andarem em campanha eleitoral. É um direito que lhes assiste e, caso haja eleições legislativas lá para meados de 2016 como estou convencido que haverá e até aceito apostas, nem sequer começaram a campanha muito cedo.

O que se pede a Passos Coelho é que, ao lembrar a História da nossa democracia, não cometa erros tão crassos como aqueles que lhe acabei de ouvir num extracto directo na SICn onde ele afirmava que, em 1985, Mário Soares então Presidente da República (em 1985 o PR era Ramalho Eanes) deu posse ao primeiro governo de Cavaco Silva (o que evidentemente não podia), misturando com esse tempo a razão que levou Mário Soares, em 1987, a dissolver a Assembleia da República e a convocar eleições (de onde saiu o primeiro Governo maioritário de Cavaco Silva).

A ignorância é um direito mas exibi-la desta forma é, no mínimo para um Primeiro-Ministro – ainda que só em funções de gestão, muito pouco abonatório.
LNT
#BarbeariaSrLuis
[0.291/2015]

Actos estritamente necessários

TAP PaF

domingo, 8 de novembro de 2015

Inequivocamente e muito claro

BengalasPara que fique muito claro, como costuma dizer António Costa, as eleições primárias foram para designação do candidato do Partido Socialista a Primeiro-ministro.

O que foi inequivocamente afirmado pela imensa maioria dos portugueses, como costuma dizer António Costa, foi que os eleitores não quiseram que esse candidato a Primeiro-ministro se fizesse o chefe do Governo, senão teriam posto o PS em primeiro lugar nas eleições.

É nesta clivagem, como costuma dizer António Costa, que reside a diferença entre a consciência de Costa e a minha própria. Nada tenho contra, antes pelo contrário, a uma convergência séria à esquerda, tenho muito contra que ela se faça com estes resultados eleitorais em que António Costa perdeu vergonhosamente umas eleições depois de quatro anos de martírio desta direita. Uma questão de coerência.

E também:

A partir de agora não haverá qualquer Partido que fique isento de responder, em campanha eleitoral, à questão sobre as suas alianças no caso de não obter maioria absoluta.

Ninguém vai poder escusar-se a dar essa resposta (com a desculpa de que está orientado só para a obtenção de uma maioria absoluta) e ninguém poderá vir, a posteriori, dizer que essa resposta já tinha sido dada em momentos diferentes ou por outras palavras.
LNT
#BarbeariaSrLuis
[0.288/2015]

sábado, 7 de novembro de 2015

Da coerência e das premissas

Gunter GrassAgora que o “Arco da Governação” acabou, o PS prepara-se para governar substituindo o Governo PSD/PP. Se a vida fosse feita de coerências era uma monotonia.

Enquanto se aguarda o conhecimento dos conteúdos dos três acordos à esquerda para satisfazer as condições que o actual Presidente da República exigiu, reúnem-se este fim-de-semana, em separado, os estados-maiores dos quatro Partidos para validarem o que cada um deles entende por um acordo sustentável para a legislatura.

No princípio da semana tudo tem de estar consolidado, condição desde sempre exigida pelo Partido Socialista para que possa apresentar a quarta moção de rejeição ao Programa do Governo do PàF. E, como é de coerência que se fala, António Costa reafirma para quem quiser ouvir que sem acordos de papel passado que sustentem um compromisso para a legislatura o PS não viabilizará qualquer moção de rejeição dando o dito por não dito que há praticamente um mês foi comunicar no Palácio de Belém.

Uma coisa, a única, é neste momento certa.

Todas as conclusões têm de ter em consideração as premissas e as premissas de hoje não são obrigatoriamente as do dia seguinte às eleições presidenciais sendo por isso irrelevante a pretensão de um acordo para a legislatura.
LNT
#BarbeariaSrLuis
[0.287/2015]

sábado, 31 de outubro de 2015

Chamam-lhe um saco de gatos

Gato animadoJá tudo se chamou ao Partido Socialista. Uns querem-no como direita, outros como centro e outros como esquerda.

Saco de GatosHá quem diga que o PS é um saco da mesma farinha (normalmente os que comem farinha de um só saco unicista, bem comportado, submisso, formatado e obediente) assim como há quem prefira dizer que é um saco de gatos assanhados por não entender que é condição dos gatos serem independentes e desalinhados.

Há quem não consiga suportar o Partido Socialista tal como ele é, com gatos diferentes no pensar, na cor, no género, na combatividade. Umas vezes aguerridos, outras mais solidários e, infelizmente de há uns anos para cá, com tiques pouco fraternos por terem perdido a noção básica do respeito pelas diferenças inerentes à família dos felídeos.

Há os que gostariam de ver o Partido Socialista reduzido à insignificância feito em frangalhos felinos para serem absorvidos pelas gatarias das cores diversas que se esmifram para juntar às suas hostes gatos dissidentes.

Há quem pretenda bater no saco de gatos para que os miados promovam o esgatanhamento e se dê por finda a única verdadeira coligação existente em Portugal cimentada por uma Declaração de Princípios onde cabem todos os gatos desde que nela se revejam.
LNT
#BarbeariaSrLuis
[0.286/2015]

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Antes a ornitologia

Ovos pataObservo com interesse aquilo a que os mais ingénuos chamam de unidade de esquerda e os mais exuberantes ingénuos chamam de histórica coligação das esquerdas.

O interesse aumenta quando oiço um dos líderes dessas esquerdas a referir-se a um acordo individual com cada uma das outras como uma ideia ainda em desenvolvimento e uma outra líder dessas mesmas esquerdas a querer afirmar-se como vanguarda da aliança ainda por realizar. Aumenta especialmente quando vejo o centro e charneira dessa esquerda, mudo e quedo, expectante de um milagre em terra de incréus.

Enquanto tudo se faz por baixo dos panos justificando o secretismo com a estratégia traçada e mandando às malvas a sempre evocada transparência pela força gauche da parte do arco-íris desenvolvida entre o rosa e o vermelho escarlate, o grão-mestre desta loja do extremo europeu mantém o discurso e empossa as forças droite da parte do arco da governação desenvolvida entre o laranja e o azul, embora aveludando as arestas para não parecer tão sectário como lhe é habitual, abrindo espaço para a nega que se segue.

Devia ter-me dedicado antes à Ornitologia que, mal por mal, sempre daria para classificar a passarada por espécies, géneros e famílias, abdicando desta coisa esquisita que pretende dividir com simplismo o espectro político entre esquerda e direita.
LNT
#BarbeariaSrLuis
[0.285/2015]

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

A bola de cristal

Bola de cristalAo contrário do que disse Marques Mendes, na assembleia de Deus que a SIC agora faz ao Domingo, creio que teremos Orçamento dentro de poucos meses.

Isto porque:
se Cavaco se decidir deixar este nado-morto, que aí vem, mergulhado em clorofórmio até que ele próprio parta para os resplendores da luz perpétua, o próximo Marcelo (ou outro) que reencarnará na pele de Presidente, dará de imediato posse ao Governo gauche para que leve as continhas à AR;
se Cavaco fizer mais uma arrecua e nomear Costa, a questão também ficará por aí.

Logo, o problema do Orçamento estará resolvido nos primeiros meses do ano.

O que se seguirá, é que já não é trigo-limpo. Cheira-me que não nos safamos de eleições antes de férias grandes, seja porque sim (porque aquele que reencarnar assim o venha a decidir), ou porque não (porque os fiadores de Costa lhe tirem o tapete).
Depois seremos sortudos se, entretanto, o canibalismo habitual do PSD levar o Coelho ao caldeirão, caso contrário ainda o vamos ter de gramar e ao seu porta-chaves por uns anos valentes.
LNT
#BarbeariaSrLuis
[0.284/2015]

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Vai ser um vale de lágrimas

Asterix PapiroDaquilo que leio e oiço vamos ter Governo lá para 6ª Feira. Foram precisos vinte e sete dias para parir um nado-morto (segundo o Priberam: "Produto da fecundação que não manifesta sinais de vida após a expulsão ou extracção do corpo da progenitora").

Felizmente em Portugal não se reproduzem elefantes senão a espécie estava em iminente risco de extinção.

Essa coisa que tanto tempo demorou a cogitar (e que considero como formalidade útil da democracia) trás consigo dois novos abcessos para os quais nem sequer haverá duodécimos para o papel timbrado.

Dos que partem, Deus os conserve, vamos ter saudades das palhaçadas do homem da economia, do colinho da comunicação social do Opus Saúde, da irrelevância da senhora que deixou pendurados os estatutos das forças de segurança e uma saudade eterna dos estremeções que o homem da educação conseguia sempre multiplicar exponencialmente.

Dos que ficam e dos que entram para a gestão esperamos a lamúria, o choradinho e a pieguice pegada, agora que vão ficar fora da sua zona de conforto.

Vai ser um vale de lágrimas até que os estalinistas se convertam ao capitalismo e aos mercados e os trotskistas se deixem de revisionismos proporcionando ao rabugento e sectário mestre-de-cerimónias uma saída airosa.

ET. Tinha-me esquecido, dos que saíram, daquela senhora que teve um gabinete no Terreiro do Paço e fez a nossa justiça engasgada andar no passo que todos sabemos.
LNT
#BarbeariaSrLuis
[0.283/2015]

sábado, 24 de outubro de 2015

Reaccionário ≠ Reformista




GambozinoDepois de ontem ter estado uma bela noite para ir aos gambozinos hoje, durante o dia, mantém-se essa propensão.

E quem não entende que a tradição de caçar gambozinos à noite já acabou (como muitas outras, por exemplo, a das mulheres não poderem votar, não poderem ir para a carreira judicial e não se poderem ausentar do País sem autorização escrita dos maridos), não conseguirá alguma vez entender que o Mundo avança por cada tradição que se quebra.

Há no entanto uma tradição que tenho muita dificuldade de entender que se possa quebrar. A da honra, ou palavra dada, aquilo que se chama “o acordo de cavalheiros” que consiste em cumprir com actos o que antes, mesmo que só com um aperto de mão, entre dois, ou com uma promessa eleitoral, entre quem se candidata e quem lhe entrega o voto, havia sido prometido.

Esta tradição, a da honra, muito mais valiosa do que qualquer outra resultante do “fazer de uma forma porque nunca se fez de outra” tem sido sistemicamente quebrada por quem hoje evoca as tradições para evitar o que a lei escrita contempla.

Todas as outras tradições, bem como todos os sermões moralistas que temos de aturar nos tempos que correm evitam a racionalidade e preferem os bons costumes que garantam o Status quo (in statu quo res erant ante bellum) ignorando que a maior parte das batalhas foram travadas para alterar tradições e costumes.

São estas coisas que dão sentido aos termos “reaccionário” e “reformista”.
LNT
#BarbeariaSrLuis
[0.282/2015]