segunda-feira, 19 de maio de 2008

Botão Barbearia[0.446/2008]
Se ao menos o céu estivesse azulMar e Boias

Neste fim de Europa temos duas coisas que atenuam a desvantagem de nos situarmos no Cu-de-Judas. O mar e o céu azul proporcionam, quando tudo parece correr mal, o mergulho na água salgada capaz de cortar o desânimo e a sensação do Universo nos estar aberto até ao Sol.

Este ano, depois de todos os avisos que a coisa iria correr mal e de todas as negações de que assim iria ser, começa a desabar o edifício sem fundação sustentada e assanham-se as formas redutoras do capitalismo selvagem, agora travestidas de (neo)liberalismo.

Ao aumento da carga fiscal e da eficácia da máquina de controlo da evasão fiscal tinha de ter equivalido uma diminuição substancial das despesas do Estado conseguida, não pelo corte indiscriminado no funcionamento, mas no derretimento das gorduras parasitas que tomam conta dos centros de decisão. O recurso sistemático ao outsourcing em contratação sucessiva e permanente significa um acréscimo de funcionários pagos embora por rubrica diferente da das despesas com o pessoal.

Parte desse outsourcing destina-se unicamente a satisfazer a obesidade dos serviços e a provocar, com a flatulência ruidosa do PowerPoint, a ilusão da modernidade e de progresso. Pior ainda é verificar que se aplica na razão directa dos cortes sistemáticos na formação dos quadros e que, a par de reformas fantoches dos serviços públicos, o objectivo conseguido cifra-se na reengenharia do eufemismo, o que levou à multiplicação de quadros dirigentes a quem se deram novas designações.

Agora, com os aumentos que se anunciam devido ao custo dos combustíveis numa inexplicável roda em que se fazem contas em Dollares quando a nossa moeda é o Euro (e a desvalorização do Dollar perante o Euro está a par do aumento do petróleo em Dollares), demonstram bem a ineficácia do edifício e a ineficiência das entidades reguladoras do Estado.

Os resultados não se farão esperar e serão, uma vez mais, tal como naquilo que se vai verificar com a demagógica redução de 1% do IVA, os especuladores a beneficiarem na mesma proporção do agravamento das condições de vida dos consumidores.

Nada nos salva. Nem sequer chega o tempo do mergulho no mar, nem o céu se consegue limpar do chumbo.
LNT

4 comentários:

Nilson Barcelli disse...

Já alguém fez melhor?
E, ainda que isso seja perfeitamente possível, haverá alguém à vista que faça melhor? O Santana Lopes? A Manuela Ferreira Leite? Tanto um como outro já deram provas, cada um à sua maneira...

Boa semana, abraço.

Anónimo disse...

Dizes tu que acabamos sempre por concluir que estamos entregues aos bichos? Olha... habituemos-nos.
Abrs
Rui Perdigão
http://vida-das-coisas.blogspot.com

Anónimo disse...

Acabo de ver aqui, valentemente escarrapachada no espelho da vossa barbearia, uma questão que tenho colocado a vários amigos, conhecidos e outros cabeludos que me são próximos e a que ninguém, até agora, pareceu querer atribuir grande crédito. Refiro-me à das contas dos combustíveis ou, para abreviar, da gasolina e do gasóleo, líquidos que dantes (também) serviam para tirar nódoas e que agora se converteram eles mesmos numa enorme nódoa de gestão pública. Acrescento aos ingredientes das vossas equações (câmbios relativos ao dólar e ao euro, preços do “brent” e etc. e tal) mais um, que me foi vendido como certo mas que ainda não consegui tirar a limpo: parece que o refinador ou refinadores portugueses do dito “brent” o compram agora e pagam 90 (noventa) dias mais tarde, o que, a ser verdade, eleva mais uns furos a fasquia do despudor com que se vêm sucedendo, no número, no tempo e no modo, os aumentos do preço daqueles bens. Parece, pois, que os senhores (os gajos?) da governança pública e privada que tem a ver com esta ladroeira estão a precisar, sem grandes delongas, de uma boa tesourada, qual seja a constante da seguinte

PROPOSTA:

Que através da blogosfera se convoque, com a antecedência e o batuque necessários, uma GREVE GERAL À COMPRA DE COMBUSTÍVEIS, COM A DURAÇÃO DE VÁRIOS DIAS, EM DATAS A APRAZAR, precedida de alguma discussão quanto ao exacto intervalo de tempo em que a mesma deva realizar-se, por forma a prejudicar o mais possível essa gentalha e o mínimo possível… os grevistas.

Com barbeirais e muito bem aparadas saudações do

JAKIM.

odete pinto disse...

As teses filosóficas sobre a tradicional 'inveja' dos portugueses, afinal caíram por terra.

Se bem interpretei os parágrafos 2 a 4 deste post:
A estatística governa-nos. Se os Nºs ($) das estatísticas são melhores que os nossos (cidadãos), porque será que não 'invejamos' a estatística?
Acho que começo hoje mesmo a ficar envejosa.