segunda-feira, 21 de julho de 2008

Botão Barbearia[0.603/2008]
Novas abordagensCores
( * ) "Quando o agressor não é branco, parte dos brancos anti-racistas cala-se pois, sem autoflagelação, a motivação esfuma-se."
Zé Paulo e já antes João Tunes e, pelos lidos, Carlos Gil (também aqui) abordam a questão de Loures numa formatação conhecida de cor ( * ) por quem já pisou fundo o terreno que lida com determinados grupos activistas, com estatuto de subsídio-dependência, que se limitam a desenvolver actividades baseadas em estereótipos aparentemente bem intencionados e em princípio importantes para a denúncia e defesa dos princípios que dizem proteger mas que, para além do paleio e do folclore, nada trazem de útil. Todos os conhecemos, não adianta enumera-los.

Porque essa gente é por demais conhecida e porque as suas técnicas de sobrevivência sem trabalho são do conhecimento de todos, recuso-me a ajudar na publicidade.

Quanto ao concordar com JPT que é um paradoxo "Um dia, quando a utopia chegar..." como aqui escrevi, o Zé Paulo contesta porque diz já ter visto muitas "utopias" terem-se transformado em realidade com o decorrer do tempo. Espero que ele tenha razão, embora, em relação a esta não acredite que assim venha a ser, pelo menos nas gerações mais próximas.

Voltando ainda a Loures. É evidente que há ali um conflito étnico, não vale a pena escamotear. Mas principalmente existem ali duas componentes que fazem esse conflito transformar-se em guerrilha armada.

A primeira é o facilitismo que proporciona o conceito do direito sem dever. Se aquela gente tivesse pago as casas onde vivem, ou se fossem obrigados a satisfazer compromissos para manterem as casas onde foram alojados, possivelmente pensavam duas vezes antes de criarem problemas entre si. A assim não ser e a partir da ideia simples que alguém lhes irá resolver de novo os problemas gratuitamente sem terem de assacar as consequências dos seus próprios actos, continuarão a agir sem responsabilidade e sempre com a ideia de que tudo podem exigir em troca de nada. Como disse em resposta a um outro comentário, todos nós gostamos mais ou menos de uns ou outros vizinhos dos nossos bairros ou condomínios mas não nos passa pela cabeça começar a chumbar aqueles de que gostamos menos. Ninguém dá valor ao gratuito, embora os portugueses adorem uma borla. Nenhuma habitação social deveria ser entregue sem que fosse assinado um compromisso, pelo menos, de civilidade e licitude. A quebra desse compromisso implicaria a quebra de solidariedade do Estado.

A segunda prende-se com a defesa de territórios de grupos organizados para comércios ilícitos. Em parte também decorrente da primeira, tanto se pode passar entre brancos e pretos como entre pretos e ciganos, entre ciganos e brancos, entre pretos e pretos, entre brancos e brancos, entre ciganos e ciganos e por aí fora considerando todas as etnias, cores, religiões e nacionalidades. No caso, o simples facto de se falar de 2ªs e 3ªs gerações de imigrantes já revela conceitos estranhos porque em princípio estamos a falar de cidadãos portugueses, o que reforça a ideia que a tal utopia tarda a deixar de ser um paradoxo.

Claro que esta abordagem é parcelar e simplicista. Os blogs podem apontar caminhos mas não são, pela sua própria natureza, manuais de ciência nem os bloggers têm de ser mestres.

Se conseguirmos transmitir nestas abordagens pelo menos visões diferentes daquelas que nos são vendidas pelo status quo, seja do poder ou dos que vivem de ser contra-poder, já a coisa não está mal. Foi isso que penso ter sido conseguido pelos bloggers referidos e que servem para reforçar a ideia que os Blogs também servem como criação de nova massa crítica.
LNT

à margem, mas a não perder: João Tunes em "a odisseia da Camarada Álvaro na Quinta da Fonte"
Rastos:
USB Link-> O embaraço de Loures – Água Lisa(6) – João Tunes
-> Loures: é preciso olhar e ver – Água Lisa(6) – João Tunes
-> Loures - Qtª da Fonte - On the road again – Carlos Gil
-> Loures. Racismo? De quem? - Lanterna Acesa - Zé Paulo
-> Ma-Schamba - José Pimentel Teixeira

7 comentários:

Anónimo disse...

Bom texto que denuncia situações e comportamentos e levanta ainda questões para que cada um possa meditar...

De facto, a maioria dos bloggers também têm cabeça para pensar e podem ajudar, em muito, a resolução de alguns problemas como o levantado aqui.

Boa semana de trabalho... e ócio.

jpt disse...

Já que aí sou, honrosamente, citado permito-me intervir - eu não sei o que se passou, li uns breves posts apenas mais centrados no discurso sobre o facto do que sobre o facto. Houve tiros entre "pessoas de cor", não foi? Pelo que intuo foi tiroteio em busca de espaço económico (se comércio de psicotrópicos ou de roupas falsificadas não tenho a certeza). Eu não vejo bem onde haverá racismo, são comunidades de interesses (até empresariais), assentes em lealdades/confiança mútua e, porventura, códigos éticos e económicos algo diferenciados. daí que ache que será um bocado mania dizer que não gostam uns dos outros por racismo, será mais uma compita económica entre grupos concorrenciais - que se instituem por critérios, digamos, socioculturais. Tal como em tantos outros palcos (e, já agora, em imensos filmes porreiros)

Depois há a cena do racismo atribuído a quem descreve a cena (no blasfémias visitei um post de 300 comentários discutindo o assunto): a questão se os tais atiradores são "ciganos" e "pretos, aka negros" (as tais "cores" das tais "pessoas") ou se são outras coisas (portugueses, cidadãos, meliantes, atiradores). Acho que a rapaziada perdeu o à vontade com as palavras porque se esquece, cheia de medo, de que elas servem para descrever e para definir. Eu posso descrever um grupo de portugueses apoiando o Sporting num jogo em Chamartin: digo "os portugueses" em Chamartin. Estão descritos - mas não defino os "portugueses" como ontologicamente sportinguistas (são os melhores, claro). Aceito que há vários tipos de portugueses (agnósticos, ateus, lampiões, andrades, etc).

A gente tem muita vergonha.

Já agora, caro shô Luís, e para esquecer estas coisas convido-o a visitar o meu ma-schamba, tem lá um mui recente post sobre "pessoas de cor". Acho que o interessará

jpt disse...

já agora, e se me permite a insistência, a utopia é um horizonte (tenebroso - ciclónico; escatológico - calmaria). Um tipo ao horizonte não chega, por mais voltas que lhe dê: pode é dar com ... enfim, pode é dar uma turra na parede. E depois chamá-la utopia, à falta de melhor varanda.

Zé Paulo Gouvêa Lemos disse...

Ao que o JPT aqui disse sobre Loures, concordo na integra. Já sobre "horizontes", já cheguei a muitos. Tudo bem que depois que chego a um, outro avisto, mas aquele que abracei como realidade deixoi de ser utopia...já o novo horizonte, uma nova utopia...
Cumprimentos aos dois.
Zé Paulo

Luís Novaes Tito disse...

Caro Comendador

O Ma-Schamba continua nas minhas leituras frequentes e o tal post das pessoas de cor (serão azuis?) está visto e apreciado.

Quanto à utopia as coisas são todas utópicas, pelo menos até se realizarem como sugere o Zé Paulo.

Há umas mais difíceis e outras mais fáceis mas não me custa ter a utopia de que todas poderão, num tempo, ser alcansáveis.

Anónimo disse...

"Efeitos colaterais" e "fogo amigo" são expressões que entraram recentemente no léxico (obrigatório) politicamente correcto. Quando o próprio vice-presidente da Comissão Europeia declara que “os ciganos devem ser ajudados e não estigmatizados” (sem explicar de que enfermidade ou deficiência padecem os ditos, ao certo), bem podemos limpar as mãos à parede, quanto às "perplexidades" que este caso origina.
Sabendo que o Estado português já transcreveu para a ordem jurídica nacional as diversas figuras e medidas de "discriminação positiva", devemos concluir que já não assiste a Portugal - ou a qualquer outro Estado-membro - nenhum direito de opção ou de decisão que a essa "orientação" suprema desobedeça.

odete pinto disse...

Caro LNT,

Felicito-o pela escrita deste excelente post.

Dele destaquei este parágrafo pleno de bom senso:

"A primeira é o facilitismo que proporciona o conceito do direito sem dever.

Se ... fossem obrigados a satisfazer compromissos para manterem as casas onde foram alojados, possivelmente pensavam duas vezes antes de criarem problemas entre si.
A assim não ser e a partir da ideia simples que alguém lhes irá resolver de novo os problemas gratuitamente sem terem de assacar as consequências dos seus próprios actos, continuarão a agir sem responsabilidade e sempre com a ideia de que tudo podem exigir em troca de nada....

Ninguém dá valor ao gratuito, embora os portugueses adorem uma borla.
Nenhuma habitação social deveria ser entregue sem que fosse assinado um compromisso, pelo menos, de civilidade e licitude. A quebra desse compromisso implicaria a quebra de solidariedade do Estado.

Pergunto-me:
1.Quem tem '300 contos' para comprar uma porta, precisa de habitar num bairro social?

Idem para quem tem dinheiro para comprar playstaions (plural), etc., etc.

2. Porque se mantém a inércia e o lascismo de rendas (baixas) por pagar?

3. A classe média (inclusivé a baixa classe média) estará ad eternum condenada a pagar tudo (inluindo as contas da EDP e...) - pelos 'ditos' pobres e pelos ricos e muito ricos que fogem aos impostos?

O que eu gostava, mesmo, de perceber é como funciona o IEFP (de costas voltadas para a Seg.Social/RSI)?